Super-ricos russos preparam sucessão
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Alexander Lebedev dificilmente passa uma semana sem receber um telefonema de um agente de segurança do governo ou de um policial de olho num pedaço de sua fortuna de US$ 3,4 bilhões. Não é um estilo de vida que ele deseje para seu filho mais velho, Evgeni, 30. (Seu outro filho tem um ano de idade) "Tocar negócios, em nosso país, é como lutar com ursos", diz Lebedev, em seu escritório numa elegante mansão em Moscou. "Não creio que você gostaria de passar isso para seu filho." Apesar de ter apenas 50 anos, Lebedev já está ponderando um dilema que irá confrontar os empresários e industriais que se tornaram super-ricos nos caóticos anos iniciais da Rússia pós-comunista: o que será de seus bilhões, por vezes adquiridos através negócios inescrupulosos - e como deveriam eles planejar suas sucessões? Em 2020, a idade média dos 50 empresários mais ricos na Rússia ultrapassará os 60 anos. Isso significa ser jovem, na maioria dos países desenvolvidos, mas na Rússia a expectativa de vida média dos homens é 62 anos. Para as mulheres, são 74 anos. Yelena Baturina, magnata da construção civil, casada com o prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, é a única mulher entre maiores empresários russos. O planejamento sucessório é repleto de tensão nas empresas sob controle familiar em qualquer país, e talvez mais na Rússia do que em qualquer outro lugar. Nessa economia de transição, a corrupção corre solta. Segundo a Transparência Internacional, a Rússia compartilha com Venezuela, Camboja e Serra Leoa uma mesma posição na escala de percepção de corrupção. Os empresários dizem que nunca podem estar seguros de que a polícia, os tribunais e o governo protegerão seus direitos. Para sobreviver, contatos políticos são normalmente mais importantes do que documentos legais ou participações acionárias. O risco é que, à medida que os controles proprietários passam para a geração seguinte, o Kremlin ou predadores empresariais podem se apropriar dos ativos de herdeiros sem acesso às relações estabelecidas por seus pais. "Quase não existe o que se possa denominar propriedade privada na Rússia", adverte Stanislav Belkovski, um ex-assessor do Kremlin que agora dirige o Instituto de Estratégia Nacional, um think-tank em Moscou. Os bilionários russos estão explorando uma diversidade de opções para transferir suas riquezas. Vladimir Ievtushenkov, magnata das telecomunicações, colocou filho e filha em funções executivas e espera que eles, futuramente, assumam seu império. Vladimir Potanin comprometeu-se a doar sua fortuna para entidade beneficente - inclusive uma participação na maior empresa mineradora russa -, em 2020. (Ele pretende deixar seus três filhos em situação confortável, mas deseja que conquistem seu próprio futuro.) Boris Zingarevich, 50 anos, e seus sócios, venderam 50% da Ilim Pulp, maior produtora de papel na Rússia, para a International Paper em 2006. À época, seu filho, Anton, estava mais interessado em investir em futebol. Anton, 28, está agora na Ener1, empresa de seu pai que fabrica baterias de íons de lítio para carros elétricos e tem sede em Nova York, e afirma que a companhia é "revolucionária e interessante". Embora não queira discutir detalhes sobre seus planos, Lebedev está investindo no mercado imobiliário. "O ativo mais fácil de transferir para os filhos é dinheiro em contas fora da Rússia - por exemplo, em bancos suíços - e propriedades imobiliárias", diz ele. Ex-agente da KGB que trabalhou em Londres como adido econômico da embaixada soviética, Lebedev possui uma casa perto de Hampton Court Palace, nos arredores de Londres, um castelo do Século XIII, na Itália, outro castelo nas proximidades de Paris e o Château Guetsch, na Suíça. Lebedev ainda tem propriedades na Rússia, entre elas cerca de 19% da companhia aérea Até agora, o jovem Lebedev não demonstrou nenhum interesse em voltar à Rússia para dirigir os negócios de seu pai. "Os herdeiros podem não querer ser o hamster na roda", diz o pai. Apenas 36% dos empresários russos consultados pelo UBS e pela Campden Research dizem que seus filhos estão envolvidos em suas empresas. Se a próxima geração não estiver interessada, as empresas simplesmente contratarão administradores profissionais, diz Ruben Vardanian, presidente do banco de investimentos Troika Dialog. Por ora, a maioria dos empresários ricos está investindo em educação internacional para seus filhos. Ele acredita que essa experiência poderá ser uma boa promessa para a presença empresarial russa no mundo. Se conseguirem evitar conflitos familiares e a intromissão do Kremlin ou de companhias concorrentes, os filhos dos oligarcas "poderão estar mais bem preparados para tocar os negócios do que seus pais quando originalmente os adquiriram". No fim, a transferência de riqueza de uma geração para a seguinte poderá acabar sendo boa para as empresas russas. |


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