Spread sente efeito da concorrência
Valor Economico | |||
A tão falada competição bancária, que sempre pareceu mais lenda do que fato, pode estar dando sinais de vida. Ainda que de forma tímida, há indícios no último relatório do Banco Central (BC) sobre operações de crédito de que o spread - diferença entre o custo de captação do banco e o valor repassado ao tomador de crédito - caiu, no geral, 0,4 ponto percentual entre maio e junho (para 23,5%), quando a tendência natural, em período de aperto monetário, era de que subisse. Essa redução foi garantida pelo alívio no spread das operações para pessoas físicas, de 1 ponto no período. Já para pessoas jurídicas, houve alta de 0,1 ponto. Com isso, o diferencial entre os juros cobrados das famílias e o de empresas caiu para 13,1 pontos, o menor da história. "Os bancos estão demorando a reagir ao aumento da Selic", constata Arthur Carvalho Filho, economista-chefe da corretora Ativa. O estranhamento é maior porque as instituições financeiras costumam se antecipar às decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) em cerca de um mês e meio, tendo por base as taxas de juros no mercado futuro. "Só me lembro de ter visto algo parecido em 2004, quando o consignado ganhou corpo. Tratava-se, porém, de uma mudança estrutural do mercado." O custo do dinheiro para os bancos vem subindo desde setembro de 2009. De lá para cá, a taxa de captação, bastante referenciada no mercado futuro, passou de 9,3% ao ano para 11,1%. Nesse mesmo intervalo, a taxa de aplicação, aquela repassada ao tomador, caiu de 35,3% para 34,6%. A inadimplência é considerada um dos principais componentes no cálculo do spread bancário. No ano, até junho, o percentual de atrasos superiores a 90 dias caiu 0,5 ponto percentual. Já o spread sofreu uma redução maior, de 0,9 ponto percentual, o que leva especialistas a apontarem outro fator de pressão para que o aumento da Selic não esteja sendo repassado na mesma medida aos consumidores : o acirramento da competição entre os bancos. "Os bancos privados estão preocupados em recuperar o espaço perdido para os públicos ao longo do ano passado", afirma Carvalho Filho. É bom lembrar que a atuação dos bancos estatais em 2010 tem incomodado. A participação das instituições públicas no sistema financeiro nacional subiu de 41,7%, em maio, para 42,3%, em junho, enquanto a fatia dos privados nacionais foi reduzida, no mesmo período, de 40,5% para 40,1%. O balanço do Bradesco do segundo trimestre, divulgado ontem, mostra que a taxa média de margem de juro do banco segue estável desde dezembro de 2009, em 7,8%. Parte dessa dinâmica pode ser explicada pela mudança de mix da carteira de crédito, segundo Domingos Figueiredo de Abreu, vice-presidente de controladoria, relações com investidores e tesouraria. Modalidades como empréstimo consignado e financiamento imobiliário, de menor risco e custo, vêm ganhando destaque nas operações do Bradesco. Mas o ambiente competitivo também tem influenciado o comportamento do spread. "Houve, sim, acirramento da concorrência, especialmente por conta da presença dos estatais", diz Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco. Ao mesmo tempo em que procuram recuperar o espaço perdido para O presidente do Há, no entanto, quem duvide de que os spreads continuarão em queda. "Ao longo do ano, as instituições vão tentar recompor essa diferença, ajustando as taxas finais", diz a economista da Rosenberg Consultores Associados Thais Zara. As linhas que primeiro devem sentir esse ajuste são aquelas em que as taxas de inadimplência são tradicionalmente maiores, caso do cheque especial e dos cartões, no segmento pessoa física, ou conta garantida e capital de giro, no caso das empresas. |


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