| Silvia Costanti/Valor |
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| Breno Mazi, da Fingertips: "O BlackBerry continua imbatível para receber e enviar e-mails, mas é cada vez maior a adoção do iPhone entre os empresários" |
Marcelo Trípoli, usuário do iPhone e presidente da agência digital iThink, há anos não usava a mensagem automática de seu e-mail avisando que estaria fora do escritório. Isso, até a semana passada, quando finalmente tirou alguns dias de férias para comemorar seu aniversário fora de São Paulo. Apesar de não responder os e-mails, porque foi para uma região próxima a Maceió, onde a cobertura da rede de dados é precária, Trípoli atendeu o Valor em seu iPhone.
Eládio Bezerra, superintendente de arquitetura e tecnologia do BicBanco, troca e-mails como se fossem mensagens instantâneas, mesmo após às 22 horas, por meio de seu BlackBerry, . "Trazer o trabalho para casa não é mais uma opção", afirma. Hoje, tornou-se comum checar e-mails antes de dormir.
Esses são apenas alguns exemplos de como o smartphone mudou o dia a dia dos profissionais, derrubou as paredes do escritório e implodiu o tempo de trabalho. Não existe mais horário comercial. O executivo está conectado à empresa em tempo integral, ultrapassando as fronteiras do tempo profissional e pessoal, lendo e respondendo e-mails, administrando à distância, gerenciando e distribuindo tarefas, verificando pendências, tomando providências.
| Claudio Belli/Valor |
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| Eladio Bezerra, do BicBanco: "Aparelho permite visualizar a carteira de produtos do banco, facilitando as vendas" |
Os aparelhos inteligentes estão presentes em 10% da base de assinantes pós-pagos no Brasil, em torno de 3 milhões. O mercado corporativo está bem polarizado, dividindo-se entre a Apple, com o iPhone, e o BlackBerry, da Research in Motion (RIM), muito usado no mercado financeiro e na indústria.
A barreira entre o uso mais pessoal do iPhone e o corporativo do BlackBerry também está se tornando mais frágil com o aumento de sistemas empresariais disponíveis e a entrada em cena de mais um concorrente, o Android, do Google, cujo sistema operacional não depende de aparelhos e foi adotado por fabricantes como Motorola, HTC e LG.
"O BlackBerry permite ver e responder rapidamente os e-mails, receber arquivos de texto e gráficos, onde quer que o executivo esteja, dando mobilidade às aplicações corporativas", afirma Fábio Nunes, diretor de operações da Navita, que desenvolve aplicações móveis para o BlackBerry.
O fato de o BlackBerry ter diversos dispositivos de segurança - como um software que fica no servidor da empresa cliente e criptografa, ou codifica, os dados trocados entre os usuários - faz com que o aparelho seja o preferido pelo mercado financeiro. Já a interface gráfica, o tamanho da tela e o design atraem os profissionais de marketing, desenvolvedores de sistemas e publicitários.
A diretoria do BicBanco distribuiu BlackBerrys entre seus executivos para facilitar a aprovação de crédito. "O aparelho também permite visualizar toda a carteira de produtos do banco, facilitando as vendas", afirma Bezerra, do BicBanco. Em 2007, o banco fez uma oferta pública de ações na Bovespa e precisou dar aos executivos um sistema móvel para acompanhar o processo de expansão das agências em seis regionais. O sistema de segurança da RIM, no servidor do BicBanco, criptografa todos os documentos e e-mails trocados de forma remota entre os funcionários. "No caso de alguém perder o aparelho, o servidor apaga automaticamente todos os dados", afirma Bezerra.
O BlackBerry também foi a escolha da Brasil Agro, empresa fundada em 2006 para fazer aquisições de propriedades agrícolas. Os aparelhos móveis são equipados com o sistema de gestão empresarial SAP, que permite enviar e receber remotamente os pedidos de compra. A companhia tem hoje mais de 175 mil hectares de terra no Brasil, principalmente na região do Cerrado. Os executivos precisam se deslocam por regiões remotas para avaliar fazendas. "As aprovações de pedidos, que antes demoravam até 24 horas para serem ratificadas, passaram a ser feitas em, no máximo, três horas, uma diferença de mais de 85%", afirma Julio Toledo Pisa, diretor-presidente da BrasilAgro.
"Hoje, o smartphone é uma extensão do escritório", afirma Eliane Serrano, gerente da informática da AB Brasil, empresa alimentícia dona das marcas Fleischmann e Ovomaltine. A AB distribuiu 90 BlackBerrys para sua força de vendas, diretores e gerentes. A executiva diz que os funcionários reduziram o uso de notebooks, preferindo o aparelho móvel para receber e mandar arquivos. Segundo Eliana, até a aprovação de contas da diretoria, sediada no México, é feita por meio dos smartphones.
O iPhone demorou para chegar ao mercado empresarial, mas aos poucos começa a ameaçar o domínio da RIM. "O BlackBerry continua imbatível para receber e enviar e-mails, mas é cada vez maior a adoção do iPhone entre os empresários", afirma Breno Mazi, diretor de marketing e produtos da Fingertips, que desenvolve aplicativos para o celular da Apple. A empresa tem atendido a demandas de bancos como o Itaú,Bradesco, Santander e Porto Seguro, cujas aplicações dependem da interface gráfica do iPhone. Segundo Mazi, a nova geração de profissionais entra no mercado acostumada a usar o teclado virtual. "Digitar e-mails no iPhone não será problema para os novos executivos", afirma. O executivo está tão habituado ao iPhone que é capaz de digitar mensagens enquanto está dirige. Nos EUA tem até lei para punir essa prática.
A iThink tem entre seus clientes a Vivo, Johnson&Johnson, Telefônica e Samsung. Os funcionários da agência de publicidade usam o iPhone para fazer todo o acompanhamento comercial e dos contratos firmados com os clientes, destaca Marcelo Trípoli, presidente da iThink.
O aparelho da Apple também foi a escolha da incorporadora imobiliária Tecnisa quando lançou um aplicativo para venda de imóveis. O usuário baixa o aplicativo em seu aparelho, visualiza a planta e acompanha o ritmo da obra "por trás do tapume". Segundo o diretor de web da Tecnisa, Rogério Santos, a interface gráfica do iPhone, com tela grande, que permite mostrar fotos, gráficos e plantas, fez a diretoria da empresa distribuir 200 aparelhos para sua equipe de vendas. Os corretores mostram aos possíveis interessados os apartamentos disponíveis, planta, faixa de preço e como chegar ao empreendimento. Santos também usa um aplicativo para acompanhar detalhes das fases das obras e como a Tecnisa é avaliada nas redes sociais a partir de uma ferramenta de busca do iPhone.
"Nos contratos corporativos fechados pela operadora de telefonia móvel TIM, a preferência disparada é pelo BlackBerry", afirma Leonardo Queiroz, diretor de clientes da TIM. Segundo o executivo, o sistema operacional Symbian, da Nokia, e o Windows Mobile, da Microsoft, têm pouco apelo no mercado empresarial.
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