O crescimento que pode ser visto
João Werner Grando, de EXAME
As dez empresas que mais cresceram constantemente nos últimos cinco anos são o melhor exemplo do novo capitalismo brasileiro
Estação da Cemar, no Maranhão: comprada pela GP Investimentos em 2004, a distribuidora de energia elétrica captou 540 milhões de reais ao realizar seu IPO, dois anos depois
Nos últimos cinco anos, empresários e executivos brasileiros assistiram ao nascimento de um novo Brasil - um país com um mercado de capitais pujante, juros mais baixos, crédito, investimentos (ainda que insuficientes) em infraestrutura e onde prosperam gigantescos conglomerados internacionais. Ao mesmo tempo em que ganhava peso no exterior, sofrendo relativamente menos com a pior crise financeira desde a Grande Depressão, internamente o Brasil foi cenário de uma explosão sem precedentes no consumo. A estabilidade econômica alçou à classe média quase 22 milhões de pessoas - uma mobilidade social vista em poucos países do mundo. Pode-se gostar ou não, mas a primeira e maior demonstração de ascensão dessa nova classe se dá por meio do consumo.
A demanda reprimida de anos extravasa em compras de produtos que vão do primeiro carro a TVs de LCD, de planos de saúde a apartamentos, de roupas a medicamentos. Analise as estatísticas. As vendas de eletrodomésticos dobraram nos últimos cinco anos, alcançando 20 milhões de unidades em 2009, segundo a Associação da Indústria de Eletroeletrônicos. A indústria automobilística registrou no ano passado as maiores vendas de sua história. Foram 3,1 milhões de unidades, número 11,4% superior ao de 2008. Com mais acesso a serviços de saúde, a população consumiu mais medicamentos. Nos últimos cinco anos, o mercado farmacêutico dobrou, chegando a 32 bilhões de reais em 2009.
Se o consumo cresce, as empresas, ou pelo menos aquelas minimamente competentes, crescem - criando um ciclo virtuoso na economia. Um grupo de dez companhias, porém, conseguiu se destacar. Queiroz Galvão, Amil, Cemar, Lojas Americanas, Cielo, Redecard, Pague Menos, Atento, Femsa e Natura foram as campeãs de crescimento constante entre 2004 e 2009 (nesse período, jamais registraram queda no faturamento). Cada uma a sua maneira, elas representam com perfeição cinco características determinantes dessa nova e, espera-se, duradoura fase da economia brasileira.
1 - A explosão do crédito - e do consumo
Durante muito tempo, o Brasil foi um país de consumidores majoritariamente pobres que eram obrigados a comprar como ricos - à vista. Crédito, para muita gente, era sinônimo exclusivo de carnê da Casas Bahia. Em 2004, segundo dados do Banco Central, a oferta de crédito no país era de 498 bilhões de reais, ou 24% do PIB. Em 2009, esses valores praticamente triplicaram, chegando a 1,4 trilhão de reais. O efeito dessa mudança na economia foi avassalador. Num período relativamente curto de tempo, os brasileiros descobriram que poderiam comprar, pagando, ao longo do tempo, quantias que cabiam em seu bolso. De maneira gradual, o crédito mudou a economia - o Brasil ficou mais parecido com um país normal. Mudou, também, a dimensão de uma infinidade de negócios - de clínicas de tratamento odontológico a construtoras, de revendas de automóveis a agências de viagens.


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