Novas regras 'reprovam' até R$ 95 bi de capital de bancos
Por Fernando Torres e Carolina Mandl | De São Paulo
Do total de R$ 239 bilhões que hoje são considerados como capital próprio pelos quatro maiores bancos brasileiros - Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander -, apenas cerca de 60% a 70% passarão pelo novo crivo de qualidade que será imposto pelo Banco Central, que seguirá regras internacionais definidas com seus pares em todo o mundo.
A diferença de R$ 75 bilhões a R$ 95 bilhões a menos no capital próprio considerado de melhor qualidade tem impacto direto na capacidade de empréstimo. Pelas normas atuais, o capital de melhor qualidade é conhecido por "nível 1", mas com as novas regras o chamado "core capital" terá parâmetros mais exigentes, daí a "perda". Analistas e bancos começam a calcular o impacto das medidas, colocadas em audiência pública na sexta-feira passada.
Analistas do Itaú BBA calculam que caso o Banco do Brasil queira manter o mesmo nível de alavancagem (ativos como proporção do capital) de seus principais rivais ele terá de aumentar seu capital em R$ 25 bilhões até 2018, o que equivaleria a cerca de R$ 12 bilhões em valores atuais. Em relação ao Santander, os especialistas acreditam que ele pode ter de reduzir a farta distribuição de lucros. O banco distribui aos acionistas mais de 60% dos ganhos anuais, ante uma fatia de 35% a 40% dos demais.A mudança será adotada gradativamente, entre 2013 e 2019, mas pode produzir efeitos imediatos em alguns bancos, tanto no ritmo projetado para os empréstimos nos próximos anos como em termos de retenção de lucros.
Segundo o Valor apurou, o Banco Central traçou diversos cenários para calcular o quanto de capital adicional as instituições financeiras como um todo precisariam para cumprir as novas exigências, que levam o nome de Basileia 3. A conclusão foi que se os bancos mantiverem o nível recente de distribuição de lucros, o sistema não precisará de aportes extras de capital. As novas exigências poderiam ser cumpridas apenas com a retenção de resultados.
Conforme a nova regra, a cada R$ 100 em ativos ponderados pelo risco, os bancos terão que ter até R$ 9,5 em capital próprio considerado de alta qualidade - basicamente ações e lucros retidos. Além de ter o índice mínimo de 4,5% de capital principal ("core capital"), os bancos precisam criar dois colchões adicionais de patrimônio, que representem de 2,5% a 5% dos ativos, também com capital de melhor qualidade.


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