O que há de errado com a bolsa
As incertezas em relação à economia e à atuação do governo levaram a Bovespa a ter um dos piores desempenhos do mundo desde o fim de 2009. Com a bolsa em baixa, já há investidores apostando que esta é a hora de comprar
Giuliana Napolitano e Thiago Bronzatto, da EXAME
Pregão da Bovespa: incertezas com relação à economia e um dos piores desempenhos do mundo
São Paulo - No fim de 2009, a imagem de um Cristo Redentor decolando como um foguete ilustrava uma elogiosa reportagem de capa da revista britânica The Economist sobre o Brasil. A economia brasileira havia sido relativamente pouco afetada pela crise mundial e a expectativa era de uma expansão vigorosa nos anos seguintes.
Expectativa, aliás, confirmada já em 2010, quando o PIB cresceu 7,5% e trouxe por instantes uma euforia que não se via havia décadas. A perspectiva otimista levou a bolsa a valorizar 83%, uma das maiores altas do mundo, e a sediar duas das maiores aberturas de capital da história, a do banco espanhol Santander e a da processadora de cartões Cielo — juntas, as companhias levantaram 22 bilhões de reais para investir aqui. E foi isso.
De lá para cá, a bolsa murchou. O Índice Bovespa, principal termômetro do mercado, tem oscilado em torno de 65 000 pontos desde outubro de 2009, no período mais longo de estagnação da década. Nesse intervalo, as bolsas da Rússia, da Turquia e da Alemanha, para ficar em alguns exemplos, subiram cerca de 30%.
Por aqui, algumas empresas têm encontrado dificuldades para fazer ofertas de ações, e há casos de companhias que desistiram de captar recursos no mercado. Os investidores estrangeiros sacaram quase 3 bilhões de reais da BM&F Bovespa entre o fim de 2010 e o início deste ano. A questão é: o que está ocorrendo com a bolsa?
É da natureza dos mercados de ações que eles oscilem e até que demonstrem certa irracionalidade. E, de fato, o momento presente — pelo menos no que diz respeito às empre sas cotadas em bolsa — não combina com queda. No primeiro trimestre deste ano, Petrobras e Vale voltaram a bater recordes de lucro. Mas os números nunca foram — e não têm sido — suficientes para explicar o comportamento do investidor.
O desempenho frustrante da Bovespa é reflexo direto das incertezas que cercam a economia. Apesar de o futuro parecer brilhante — a exploração das enormes reservas do pré-sal, os investimentos previstos em infraestrutura e a formação de uma nova classe média devem transformar o país —, a percepção geral é que há riscos demais no curto prazo, e eles podem colocar em xeque parte dessa expansão.


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