dezembro 29, 2010

Bulgari se rende à cerâmica com joias reféns da bolha do ouro

A valorização do ouro virou de pernas para o ar a dinâmica econômica das joias - tanto para compradores quanto para vendedores

Loja da Bulgari, em Nova York

Loja da Bulgari, em Nova York: cerâmica com joias ao invés do ouro
São Francisco, Mumbai e Istambul - Em junho, Bill Doddridge pilotou seu monomotor Cessna 400 até Twentynine Palms, no limite do Deserto de Mojave, na Califórnia. Com uma pistola calibre 45 no cinto, se dirigiu a uma mina abandonada. Ele estava em busca de ouro.

Após cavoucar a terra, se esgueirar por poços, Doddridge acabou comprando a mina, fechada desde a Segunda Guerra Mundial. O ouro a ser minerado ali serviria como um negócio paralelo à sua rede de joalherias. A arma, no fim, era apenas uma precaução contra cascavéis.

“Se não conseguimos ganhar dinheiro vendendo ouro, podemos muito bem começar a minera-lo”, disse Doddridge, de 55 anos, presidente da Goldenwest Diamond Corp., de Tustin, na Califórnia. A companhia é dona da rede Jewelry Exchange, com 17 lojas e um website. “É um mundo insano.”

A valorização do ouro - que atingiu o recorde de US$ 1.431,25 por onça em 7 de dezembro - virou de pernas para o ar a dinâmica econômica das joias, tanto para compradores quanto para vendedores, com resultados diversos em diferentes partes do mundo. O volume de joias de ouro comprado nos Estados Unidos caiu 36 por cento nos últimos três anos. Na Índia, onde a demanda disparou, mulheres estão comprando pulseiras ocas que se parecem com joias maciças. Joalheiros europeus estão misturando o metal a aço e cerâmica. Exportadores turcos estão fechando empresas com a queda nas encomendas.

Quando o ouro atrapalha

“O negócio de joias está refém de algo completamente fora de seu controle”, diz Michael Langhammer, presidente da Quality Gold, atacadista de Fairfield, no estado americano de Ohio. Segundo Langhammer, a empresa está redesenhando modelos para utilizar mais prata.

O ouro subiu cerca de 200 por cento desde o lançamento de um fundo garantido em ouro negociado em bolsa, feito em novembro de 2004 pelo World Gold Council. Com o fundo, o metal passou a poder ser adquirido na Bolsa de Nova York com a mesma facilidade com que se compra ações.

“O ouro é a única coisa que atrapalha esse negócio”, disse Doddridge. Ele espera um aumento de 7 por cento nas vendas totais neste ano, e uma queda de 25 por cento nas vendas de artigos de ouro.

No Richline Group, fabricante de Mount Vernon, no estado de Nova York, controlada pela holding Berkshire Hathaway Inc. de Warren Buffett, 40 por cento das vendas vêm do ouro, comparado a 70 por cento em 2006, segundo o diretor operacional Mark Hanna. A Signet Jewelers Ltd., dona de mais de 1.300 lojas nos EUA e cerca de 550 no Reino Unido, está oferecendo mais produtos de prata, tungstênio e titânio, diz Ed Hrabak, diretor sênior de merchandising.