Quando você não é o menino mais inteligente da classe
Revista Exame
Isto já aconteceu com você:
Há quem, numa conversa com a gente, coloque o dedo num ponto central que estávamos guardando como segredo o tempo todo. Você tinha montado o seu discurso de modo a tergiversar sobre a sua posição acerca de um assunto qualquer que por qualquer motivo não estava a fim de revelar, nem de sustentar, nem de falar a respeito. E, do nada, como que por acaso ou sem querer, seu interlocutor deixa claro, numa resposta, embora de modo não explícito, que derrubou a sua cidadela, que enfiou um periscópio na sua intimidade, que decifrou seu código, que sacou exatamente aquilo que você não queria que ele soubesse. O sujeito não afirma frontalmente, para não parecer por demais antipático nem causar excessivo constrangimento, mas coloca no bolso do seu casaco a letra de que lhe desnudou diante de você mesmo. Ainda que ele tenha a elegância de fingir olhar para outro lado enquanto você se debate para encobrir de novo seu segredo, o fato é que ele lhe aplicou um tuchê. Você tinha a bola dominada e ele a roubou de você na boa, com um drible arguto que o deixou sentado no gramado.


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