julho 21, 2010

PT nega acordo com a Oi, mas deixa evidente que há negociações

    Por Graziella Valenti e Heloisa Magalhães, de São Paulo e do Rio Valor on Line
Ficou claro para o mercado que a Portugal Telecom iniciou oficialmente suas conversas para buscar um acordo com a Oi. Ontem, ambas as companhias negaram a existência de um acordo, mas nada disseram sobre a existência de negociações. O tema foi propositalmente omitido da nota. O assunto está em pauta e o diálogo político entre Brasil e Portugal vem sendo costurado.
A Oi é a saída para os portugueses poderem vender sua fatia de 30% no capital total daVivo à Telefónica, deixando os espanhóis sozinhos no controle da empresa para finalmente integrá-la à operação fixa da Telesp.
O modelo com a Oi que interessa a ambos os lados - brasileiro e português - é o de uma participação minoritária recíproca, conforme antecipou o Valor em junho.
De um lado, a Portugal Telecom entraria com uma fatia minoritária na Telemar Participações, holding em que estão os sócios controladores da Oi. Do outro, a empresa brasileira teria uma participação relevante no capital da portuguesa, provavelmente assumindo os 10% que a Telefónica se comprometeu a vender caso o acordo com a Vivo seja selado. Os espanhóis acertaram que venderiam as ações à própria PT ou a um terceiro indicado por ela.
Há tempos que os acionistas da Oi vêm sendo "sondados" sobre possíveis investidas dos portugueses. As primeiras novas investidas ocorreram antes mesmo de a oferta da Telefónica pela Vivo tornar-se pública. No passado, o Banco Espírito Santo (BES), maior acionista português da Portugal Telecom também já teria feito seus contatos indiretos com representantes da Oi no Brasil. Ricardo Salgado, presidente do banco, é o maior defensor público da venda da Vivo e do início de uma nova fase no Brasil.
A entrada na Oi, contudo, não é um negócio simples de ser costurado. Por isso, não há expectativa de que uma transação seja efetivada no mesmo prazo em que se espera concluir a venda da Vivo: até o fim do mês. Os portugueses não contam com modelar uma sociedade na Oi tão rapidamente, mas firmar um entendimento inicial. Além de uma complexa negociação sobre preço e poderes políticos na gestão, a operação exige ainda uma diligência dos números.
Por fim, antes de qualquer movimento, é preciso obter suporte político local. A Oi tal como está hoje é resultado da vontade política de criação de uma grande companhia de capital nacional no setor. Em 2008, a empresa comprou a Brasil Telecom, movimento que exigiu a modificação a Lei Geral de Telecomunicações (LGT). Por isso, há bastante esforço concentrado nessa acomodação de interesses.
No controle da Oi, permaneceram dois dos três principais sócios, Andrade Gutierrez e grupo La Fonte, além dos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal). A GP Investimentos deixou o controle em 2008 no rearranjo societário que houve antes da compra da Brasil Telecom.
Para a Oi, os bilhões de euros que a Portugal Telecom conseguiria com a venda da Vivo chegariam num momento interessante, em que acumula dívida da ordem de R$ 30 bilhões. O ritmo de crescimento foi reduzido para focar os recursos na redução desses compromissos, assumidos em boa parte para a compra da Brasil Telecom e para o lançamento da operação móvel em São Paulo.
Além disso, a entrada recíproca na PT seria uma forma de iniciar um movimento de internacionalização, promessa da fusão que criou a "super tele". A operação é politicamente viável, sem comprometer a imagem da companhia.
Já para a Portugal Telecom, a Oi seria uma forma de manter-se exposta ao Brasil e com uma perspectiva de mais longo prazo. Isso porque a sociedade na Vivo está, há tempos, fadada à extinção e uma troca pela TIM geraria o mesmo problema no futuro. Só com operação em telefonia celular, a companhia é um potencial alvo de consolidação no futuro.
A desvantagem para a Portugal Telecom está no tempo de negociação. Depender da Oi para encontrar apoio político local para vender a Vivo deixa uma grande força de negociação nas mãos dos brasileiros.
Depois de ignorar por um longo período a existência de interesse da Portugal Telecom na Oi, a imprensa europeia tem dado muito foco ao potencial negócio nos últimos dias. Em 2007, quando a Telefónica já havia tentado isolar-se no controle da Vivo, os portugueses já tinham tentado esse movimento.
Embora no mercado a avaliação da Oi esteja defasada por problemas de governança, os sócios sabem do valor da empresa, estrategicamente a mais bem posicionada do setor - totalmente integrada nos serviços móvel, fixo, banda larga e TV paga (ainda que em menor escala). Na bolsa, a Tele Norte Leste (TNLP) vale R$ 12,2 bilhões, ante os R$ 24,5 bilhões da Vivo. No recente leilão em que os fundos de pensão compraram 14,5% da holding não listada Telemar Participações do BNDES, o negócio foi avaliado em R$ 35 bilhões.
Enquanto a Portugal Telecom não reabre o diálogo, a Telefónica tenta ampliar a pressão, para ver a operação fechada até o fim deste mês. Apesar de ter desde abril um advogado contratado na Holanda, sede da Brasilcel, o escritório Brauw Blackstone Westbroek, os espanhóis não iniciaram nenhuma ação legal para dissolver a sociedade com os portugueses.