Imóveis nos bairros mais invejados não valorizam tanto
Uma pesquisa mostra que os bairros onde o preço dos imóveis mais subiu nos últimos três anos são aqueles em que pouca gente queria morar
Centro de São Paulo: melhorias urbanas estão valorizando os imóveis numa região antes desprezada
São Paulo - Há pouco mais de três anos, corretores de imóveis chegavam
a distribuir senhas a clientes que se acotovelavam nos estandes de
vendas de prédios em construção. O número dava direito a comprar um — e
apenas um — apartamento disponível. A procura era tão grande que prédios
inteiros eram vendidos em horas.
Quem comprava na planta para revender depois de pronto ganhava
dinheiro. E isso valeu para o país inteiro, quase de forma
indiscriminada. Mas, hoje, o que se vê é uma situação totalmente
diferente. No fim de 2013, os corretores tiveram de inventar formas de
atrair gente para visitar os estandes — até sorteio de aparelhos de TV
estava valendo.
Isso é evidência de uma nova fase do mercado imobiliário: sobretudo, uma fase em que os preços deixaram de subir sem parar em qualquer ponto de qualquer cidade.
Uma pesquisa inédita da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe),
que analisou o valor dos imóveis em bairros de 11 cidades do país nos
últimos três anos, mostra que há regiões em que os preços subiram mais
de 100%; em outros lugares, no entanto, a alta não passou de 10% —
menos, portanto, que a inflação acumulada de 19% no período.
Para quem quer investir nesse mercado, analisar o que os bairros que
mais valorizaram têm em comum pode ajudar a escolher o que e onde
comprar.
A principal conclusão da pesquisa é que os bairros que costumam ser o
sonho de consumo dos moradores de cada cidade não são os que mais
valorizam. Entre novembro de 2010 e novembro de 2013, as maiores altas
ocorreram em regiões de classe média ou média baixa — mas que estavam
passando por algum processo de revitalização.
É o caso da Praça da Bandeira, na zona norte do Rio, e da Sé, em São Paulo,
onde o preço dos imóveis subiu 113%. Na Praça da Bandeira, a alta
ocorre após o início de obras que fazem parte dos planos de melhoria
para a Olimpíada e a Copa do Mundo, como a construção de corredores de
ônibus e de piscinões para tentar evitar enchentes.
Também contribuiu a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs)
em favelas próximas. O bairro fica perto do Centro do Rio, outro local
que passa por revitalização, com o projeto do Porto Maravilha, que prevê
a construção de prédios comerciais, residenciais e hotéis numa área
antes marginalizada.
Os preços, no Centro, aumentaram 100% em três anos. “Apartamentos de 50
a 70 metros quadrados têm sido bastante procurados porque há muita
oferta de transporte público na região”, diz Leonardo Schneider,
vice-presidente do Secovi carioca, que reúne corretoras e
administradoras de imóveis.
Movimentos parecidos têm ocorrido em São Paulo e em Recife.
Na capital paulista, em bairros da região central, como Bom Retiro, Luz
e Sé, a prefeitura tem reformado praças e dado descontos em impostos e
taxas a incorporadoras que decidam construir na região. Além disso,
alguns prédios antigos estão sendo reformados.
Segundo corretores que atuam na região, apartamentos pequenos estão
sendo comprados por investidores e alugados para estudantes (também em
razão da boa disponibilidade de transporte) e para profissionais, como
advogados e corretores de seguros, que trabalham perto do centro.
Em Recife, o bairro em que os imóveis mais valorizaram foi Torre, que
há alguns anos tinha terrenos vazios e casinhas antigas. Passou a
receber lojas, escolas e empreendimentos novos, o que valorizou a
região.
No ranking dos 20 bairros onde os imóveis mais subiram de preço em três
anos, há alguns já bastante caros, como Leblon e Urca, no Rio de
Janeiro, Jardins, em São Paulo, e Santo Agostinho, em Belo Horizonte. De forma geral, a alta se deve à combinação entre a baixa oferta de imóveis e a grande procura.
E o que deve continuar subindo? Corretores, executivos de
incorporadoras e gestores de fundos imobiliários apostam em bairros que
estão recebendo linhas de metrô, novas avenidas ou que façam parte de
projetos de revitalização. É o caso do Brooklin, na zona sul de São
Paulo.
Há uma linha de metrô em construção, shoppings, ciclovia, e seus
prédios residenciais ficam próximos da região da avenida Luís Carlos
Berrini, que concentra escritórios de empresas, bancos e consultorias.
“No mercado de São Paulo, a combinação entre shopping, áreas verdes e
metrô equivale a ter uma vista para o mar”, diz Mirella Parpinelle,
diretora da imobiliária Lopes. Outro bairro visto como promissor é Santa
Teresa, no Rio, que também tem sido beneficiado pela instalação de
UPPs.
Com suas construções antigas, seus casarões tombados e seus
restaurantes charmosos, Santa Teresa teve a terceira maior valorização
imobiliária do país desde 2010, de 108% — e a disponibilidade de
terrenos para novas construções é pequena.
As regiões centrais de São Paulo e do Rio de Janeiro também são
indicadas pelos especialistas, que acreditam que mais gente vai querer
se mudar para esses locais quando as melhorias hoje em andamento
estiverem concluídas. É uma aposta de resultado incerto.
Quem ganhou dinheiro de verdade com a compra de imóveis nos últimos
três anos investiu em áreas que pouca gente recomendava. A partir de
agora, ganhos elevados só virão com aquela combinação que determina o
sucesso de qualquer investimento: análise aprofundada e, claro, sorte.


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