De carona na alta
Por Luciana Monteiro | De São Paulo
Parte do caminhão de dinheiro em busca de oportunidades mundo afora deve ter o Brasil como destino e o negócio agora é tentar pegar carona nesse fluxo de recursos dos investidores internacionais. A avaliação dos analistas é de que, mesmo após dois meses consecutivos de alta do Índice Bovespa, o panorama se mostra positivo para o mercado acionário. E é justamente essa a tônica das recomendações para a CarteiraValor de março: não remar contra a maré e, sim, tirar proveito desse movimento.
Em fevereiro, o portfólio composto pelas recomendações de dez corretoras encerrou com alta de 7,65%, ganho superior aos 4,34% do Índice Bovespa. No acumulado do ano, a Carteira Valor apresenta retorno de 16,51% ante 15,96% do indicador no mesmo período. Já em 12 meses, a carteira dá de goleada no Ibovespa: alta de 16,71% para uma queda de 2,33% do Ibovespa.
Após a forte injeção de recursos realizada pelo Banco Central Europeu (BCE), é provável que o fluxo para a bolsa continue forte, avalia Pedro Galdi, analista de investimento da SLW Corretora. Na semana passada, o BCE voltou a emprestar recursos para os bancos. Desta vez, foram € 529,53 bilhões em uma operação de três anos. Este é o segundo empréstimo do tipo realizado pelo BCE a bancos. O primeiro somou €489,19 bilhões e foi realizado em dezembro do ano passado.
Com isso, mais uma montanha de dinheiro foi injetada na economia e uma parcela disso acabará inevitavelmente vindo para o Brasil. "É como se diz: fogo morro acima e água morro abaixo não há como combater", brinca Galdi. Os números mostram que o saldo (aplicações menos resgates) dos investidores estrangeiros fechou fevereiro negativo em R$ 1,094 bilhão. Mas, no ano, o fluxo estava positivo em R$ 6,073 bilhões.
As recomendações para a Carteira Valor de março se mostram bem pulverizadas e deixam o tom conservador de lado. A liderança ficou com as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) classe A da Vale, com três indicações. Todos os outros nove papéis que compõem o portfólio foram citados por duas corretoras: OGX Petróleo ON, Itaú Unibanco PN, Petrobras PN, AmBev PN, Pão de Açúcar PN, PDG Realty ON, Cetip ON, Diagnósticos da América ON e BRF Foods ON.
A aposta num desaquecimento suave da economia chinesa faz com que o cenário para a Vale seja positivo. "A China deve crescer 8,5% neste ano e, por mais que este seja um pouso suave, ainda é um nível alto de expansão, o que beneficia a Vale, já que 40% de sua receita vêm do mercado chinês", diz Fernando Góes, analista da Octo Investimentos. "Além disso, a diversificação de negócios da empresa permite um crescimento maior em outros segmentos, como o de cobre, carvão e fertilizantes."
No mês passado, a mineradora divulgou balanço no qual reportou lucro líquido de R$ 8,354 bilhões no quarto trimestre do ano passado - 16,5% abaixo dos R$ 10,002 bilhões do quarto trimestre de 2010. As PNAs da empresa sofreram e encerraram fevereiro com queda de 0,45%. Além disso, no fim de janeiro, a Vale informou que tinha recebido uma decisão desfavorável, na esfera administrativa, sobre dois processos no valor de R$ 9,8 bilhões, sem contar juros e multas. Apesar disso, o crescimento chinês deixa o panorama favorável à mineradora, avalia Góes.
O fluxo de recursos estrangeiros também pode beneficiar as ações da Vale. Isso porque, se o ingresso dos investidores internacionais se confirmar, esses aplicadores buscarão principalmente as ações mais líquidas, as "blue chips", favorecendo os papéis da mineradora, ressalta Galdi, da SLW.
Na visão do analista da Octo, os papéis da Vale já incorporam a maior parte dos riscos referentes à desaceleração global e o impacto sobre os preços das commodities e à possibilidade de aumento na provisão de pendências tributárias. "A Vale é a melhor opção dentro do universo de empresas de commodities com maior peso no Índice Bovespa", avalia Góes.
A Geração Futuro, por sua vez, resolveu investir na Vale via papéis da Bradespar, uma das controladoras da minerado. Segundo Wagner Salaverry, sócio da corretora, normalmente os papéis da Vale e da Bradespar negociam com desconto, hoje no valor de 9%, e a Geração acredita que essa diferença de preços tende a diminuir. Além disso, o potencial de retorno com dividendos (o chamado "dividend yield") das ações da Bradespar é maior que o da Vale.
Na avaliação da Salaverry, as perspectivas são de que o minério de ferro continue negociando a preços altos, já que a oferta da commodity ainda está reduzida no mundo. "A Índia está restringindo a saída de minério do país, impondo barreiras de preços ou reduzindo as cotas [de exportação] a fim de manter a commodity no país", diz o executivo. "Isso é bom para a Vale, que vai suprir a demanda de outros países."


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