Clube, pra que te quero
No princípio eram apenas Marlene, Marcel e Marcelo. "Um foi falando ao outro, comentando com amigos e as pessoas foram chegando", conta Marcelo Moretta. Hoje são 100 pessoas, entre 20 e 50 anos, que se reúnem uma vez por mês depois do horário de trabalho em salas alugadas em São Paulo. Ao contrário do que possa parecer, o chamado M3, em homenagem aos fundadores, não é uma seita, mas sim um clube de investimento. O grupo, que investe conjuntamente em ações desde 2009, faz reuniões com outros dois - RMR e News. Somado, o patrimônio está próximo a R$ 500 mil.
No ano passado, os três clubes marcaram rentabilidade em torno de 5% e 6%, segundo Moretta, um dos fundadores do M3. Não foram todos clubes, entretanto, que conseguiram escapar da queda de 18% no Ibovespa. Como devem aplicar pelo menos 67% dos recursos em ações, os clubes sofrem quando os papéis caem. Com exceção da passagem de janeiro para fevereiro, a modalidade perdeu investidores mês a mês ao longo de 2011 e fechou o ano com 115.866 participantes, 12% a menos do que em 2010. O número de clubes encolheu 230, para 2.824, segundo dados da BM&F Bovespa.
A queda no número de investidores foi mais expressiva em 2011, mas já vinha ocorrendo desde 2008. Os aplicadores que deixaram os clubes nos últimos quatro anos superam em 38.236 os que passaram a fazer parte deles. "A bolsa sofreu muito com a crise e os investidores apanharam. Como muitas pessoas têm visão de curto prazo, houve saque de recursos", diz Alexandre Espírito Santo, professor de finanças do Ibmec-RJ e economista da Way Investimentos. O patrimônio líquido dos clubes diminuiu de R$ 14,78 bilhões em dezembro de 2007 para R$ 9,02 bilhões no fim de 2011.
Na opinião de Espírito Santo, o recuo dos clubes está mais ligado à conjuntura do que à própria modalidade. Já para Mauro Calil, professor do Centro de Educação e Formação de Patrimônio Calil & Calil, a mudança das regras do jogo também teve um papel importante nesse encolhimento.
Em abril do ano passado, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estabeleceu novas regras para os clubes. Entre as mudanças está a redução do número máximo de participantes do clube de 150 para 50. O objetivo era evitar que fundos se disfarçassem de clubes a fim de se beneficiar de exigências e custos menores. Somente de abril para maio, o número de investidores em clubes recuou em quase 5 mil.
As mudanças tornaram os clubes mais caros e menos atraentes para as instituições financeiras, segundo Calil. "Desde o ano passado tenho visto corretoras que claramente desencorajam a formação de clubes e até montam assessorias para fechá-los", afirma. A redução do número de investidores por clube se reflete, em geral, em menos patrimônio e operações e, assim, menos taxas no caixa da corretora. "O clube acaba se tornando deficitário para ela e é legítimo que queira fechá-lo", diz Calil.
Devido à demanda, os criadores do M3, do RMR e do News já pensam em criar mais um clube, mas afirmam que essa é uma tarefa cada vez mais difícil. "Hoje tem corretora que pede taxa de administração fixa ou patrimônio mínimo de R$ 1 milhão para abrir o clube, o que é difícil porque normalmente os investidores começam com pouco dinheiro", afirma Moretta.
Todos os clubes de investimento precisam recorrer a uma corretora, que fará a sua administração, o que inclui a providência do CNPJ, a elaboração do estatuto e a definição das cotas. A partir da obtenção do CNPJ, o tempo médio de criação dos clubes é de 30 a 40 dias, segundo a BM&FBovespa. Procurar por uma corretora é o primeiro passo para se criar um clube. Como a modalidade representa muitas vezes o contato inicial com o mercado acionário, a imposição de um patrimônio mínimo pode ser uma barreira importante ao seu desenvolvimento.
Na contramão das barreiras, um fator deve favorecer o crescimento dos clubes, segundo Maurício Pedrosa, sócio da gestora Queluz - a queda da Selic. "Cada vez mais o brasileiro vai ter que correr um pouco mais de risco, o que não é tão necessário enquanto a renda fixa pagar juros reais altos", diz Pedrosa. Se for assim, o Banco Central brasileiro acaba de dar um empurrãozinho aos clubes. Na semana passada a taxa básica brasileira voltou ao patamar de um dígito, em 9,75%.


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