agosto 18, 2011

Por que os mercados estão em pânico mais uma vez



Ações de bancos derretem com medo de contágio e economia americana aponta mais sinais de forte desaceleração

Spencer Platt/ Getty Images
O touro e o urso, que representam os investidores otimistas e pessimistas em Wall Street, no Museu de Finanças Americano, em Nova York
São Paulo – Os mercados financeiros internacionais vivem mais um dia de pânico. O medo de contágio do sistema bancário europeu, com o possível espalhamento para os Estados Unidos, disparou hoje e apunhalou as ações do setor no mundo inteiro. Os papéis dos principais bancos derretem. Além disso, dados sobre a economia americana e projeções mais sombrias sobre o rumo do país e da economia global também afetam o humor dos investidores hoje.
O pessimismo também afeta a bolsa brasileira. Na mínima do dia, o Ibovespa atingiu os 52.246 pontos, com uma queda de 5,1%. Apenas a resistente Telemar (TMAR5) está em alta, com uma valorização tímida de 0,5%, negociada a 46 reais. Do lado negativo, destaque às ações da Vale. Os papéis despencam 6% após os analistas do banco Société Générale reduzirem o preço-alvo das ADRs (American Depositary Receipts) da empresa de 42 dólares para 38 dólares.
Nos EUA, o índice Dow Jones, o mais acompanhado em Wall Street, cai 4,18%. O S&P 500 despenca 4,44% e o Nasdaq 100 recua 4,80%. A Bolsa de Nova York ativou mais uma vez a regra 48, utilizada para suavizar a abertura dos negócios. A ferramenta serve para que os formadores de preço do mercado não divulguem a indicação dos preços antes da abertura do pregão, para facilitar o início dos negócios em um dia de volatilidade acentuada.
Na Europa, os principais mercados da região também tombam. Na Alemanha, o DAX 30 se desvaloriza em 5,79%. Em Paris, o CAC 40 cai 5,07%. Em Londres, o FTSE 100 tem queda de 4,26% e, na Espanha, o Ibex 35 recua em 5,73%. As ações do setor financeiro são as que mais sofrem nesta quinta-feira.
Desaceleração nos EUA
Mais uma rodada de indicadores econômicos desfavoráveis nos EUA minou a confiança do mercado acerca de uma recuperação do país. O número de pedidos de auxílio-desemprego ficou em 408 mil nesta semana, acima dos 400 mil que eram esperados pelo mercado. Os dados são referentes ao período de 7 dias encerrado em 13 de agosto.
O pior indicador do dia foi o Philadelphia Fed Index, que traz um panorama sobre a atividade industrial na região. Os números mostraram uma redução aguda no mês de agosto na comparação com julho. A atividade passou de uma alta de 3,2 pontos para uma queda 30,7 pontos. O mercado esperava uma leve alta de 1 ponto. Além disso, a venda de casas existentes no país ficou em 4,67 milhões em julho, enquanto a expectativa era de 4,87 milhões. A única notícia positiva do dia foi o Leading Indicators, uma compilação de dados já publicados da economia, e que mostrou um avanço de 0,5% em julho, enquanto o esperado era 0,2%.
Recessão iminente
A equipe de economistas do Morgan Stanley acordou o mercado hoje com um relatório nada amigável. O banco revisou as projeções para o crescimento global e da Zona do Euro. E o resultado dos cálculos não foi nada animador. A estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Zona do Euro foi cortada de 2% para 1,7% neste ano e de 1,2% para 0,5% em 2012. Segundo o Morgan, há "um risco substancial de recessão total" na região. 
Segundo Chetan Ahya, um dos analistas que assina o relatório, a economia mundial está "perigosamente perto da recessão". As estimativas para o avanço global caíram de 4,2% para 3,9% este ano e de 4,5% para 3,8% em 2012. As economias desenvolvidas deverão crescer em média 1,5% neste ano e no próximo, em vez de 1,9% e 2,4%, respectivamente, como previsto antes. Para a China, as estimativas passaram de 9% para 8,7%. O Deustche Bank também diminuiu a projeção de 9,1% para 8,9%.
O medo de contágio
O jornal The Wall Street Journal (WSJ) indicou hoje que o Banco Central americano (Federal Reserve) e reguladores do governo estão preocupados com o espalhamento da crise da dívida dos países europeus para o sistema bancário americano. O governo estaria realizando um exame minucioso sobre os braços dos maiores bancos da região no país, segundo pessoas familiares ao assunto.
O Fed de Nova York, responsável pela fiscalização das operações de alguns dos maiores bancos europeus, tem se encontrado com os executivos em longas reuniões para entender a vulnerabilidade deles em um ambiente com o aumento das pressões financeiras. O BC americano tem exigido mais informações dos bancos sobre como eles poderiam acessar os fundos diários necessários nos EUA e, em alguns casos, pedindo que os bancos revisem as suas estruturas no país.
A notícia acertou em cheio as ações dos bancos europeus, que derretem nesta quinta-feira. As ações dos franceses Crédit Agricóle (-5,9%), Société Générale (-9,15%) e BNP Paribas (-5,15%) despencam em Paris. Em Londres, o Barclays (-9,86%), Royal Bank of Scotland (-8,9%), Lloyds (-8,8%) e HSBC (-5,3%) também caem forte. Em Milão, o Intesa Sanpaolo (-7%) e o UniCredit (-6,2%) têm um recuo expressivo.