junho 25, 2011

É o fim do mercado de carbono?


Com a derrocada na venda de créditos de carbono aos países ricos, nações emergentes como o Brasil perdem algo valioso: um incentivo financeiro para poluir menos


José Alberto Gonçalves Pereira, da EXAME

Termelétrica na Inglaterra
Termelétrica na Inglaterra: a crise na Europa tirou o ímpeto da indústria e derrubou as emissões de CO2
São Paulo - Ganhar muito dinheiro com ar. É possível? Entre os anos de 2006 e 2008, muitas empresas do Brasil e de outros paí ses emergentes estavam convictas de que sim.
E tinham razões para isso. Elas estavam faturando alguns milhões de dólares com a venda de créditos de carbono do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), da ONU, uma das peças-chave do Protocolo de Kyoto — tratado assinado em 1997 que determinou pela primeira vez limites para as emissões de gases causadores do efeito estufa nos países ricos.
Funcionava assim: uma companhia brasileira apresentava à ONU um projeto de MDL provando que havia reduzido as emissões de CO2 ao trocar, por exemplo, a matriz energética suja de uma fábrica por uma de fonte renovável. Com isso, ganhava créditos, que vendia a uma empresa europeia ou japonesa que precisava cumprir metas de baixar suas emissões de gases estufa.
Esse comércio entre emergentes e ricos teve seu auge em 2007, quando movimentou 7,4 bilhões de dólares. De lá para cá, porém, o MDL perdeu fôlego, e o que se vê hoje é o ocaso de um dos símbolos da luta contra o aquecimento global.
Segundo um relatório do Banco Mundial divulgado no início de junho, a venda desses créditos gerou apenas 1,5 bilhão de dólares em 2010. Isso representou 1% do total de 142 bilhões de dólares do mercado global de carbono em 2010, que abrange outros tipos de negociação. Entre 2005 e 2007, essa fatia chegou a ser de quase 20%.
O mercado de carbono começou a dar sinais de fadiga em 2008, quando a crise financeira mundial derrubou os preços dos créditos. A crise tirou também o fôlego da indústria europeia, que, ao produzir menos, passou a precisar de menos ajuda dos emergentes para cumprir suas metas de redução de gases estufa.
Até dezembro de 2009, porém, acreditava-se que os governantes dos países do mundo reunidos na conferência do clima da ONU, em Copenhague, na Dinamarca, definiriam um acordo global de redução de emissões para depois de 2012, data em que o Protocolo de Kyoto expira. Mas isso não aconteceu.