agosto 17, 2010

Petrobras perde R$ 56 bi de valor e liderança do Ibovespa


    Por Graziella Valenti e Fernando Torres, de São Paulo
    Valor Economico
A segunda prévia da carteira teórica do Índice Bovespa que será referência de setembro a dezembro confirmou a perda de prestígio da Petrobras durante essa fase de indefinição sobre a megaoferta de ações da companhia. A estatal deixou de ser o papel mais importante do principal indicador da bolsa brasileira. Perdeu o posto para a mineradora Vale. Esse cenário, contudo, é temporário. A expectativa é que a participação da empresa no índice aumente substancialmente após a capitalização planejada para setembro, de cerca de US$ 50 bilhões.
Em 31 de agosto fará exatamente um ano que o governo anunciou a intenção da capitalização. De lá para cá, a estatal perdeu seis pontos na participação do Ibovespa, de 18,5% para 12,5%.
Essa perda reflete dois movimentos que se alimentam: a perda de valor da companhia e o afastamento do investidor das ações. "Não era de se esperar isso de uma empresa que está descobrindo o pré-sal", diz Ricardo Almeida, professor do Insper. Segundo ele, ambos os movimentos ocorrem porque ainda existem muitas dúvidas sobre o processo de capitalização. Preço das ações e volume negociado afetam diretamente os cálculos do Ibovespa, um índice ponderado principalmente por liquidez.
No caso das preferenciais, as mais líquidas, o volume médio de ações negociadas caiu de 19,7 milhões de títulos ao dia em 2009 para 18,3 milhões neste ano. O giro financeiro diário passou de R$ 615,8 milhões para R$ 587,4 milhões.
Quando o projeto foi anunciado, a Petrobras valia R$ 320 bilhões e a capitalização equivalia a 16,3% de toda a bolsa brasileira. Ontem, a companhia fechou o pregão valendo R$ 263 bilhões - R$ 56 bilhões a menos - ou 11,6% de todo o mercado doméstico.
Ainda não é possível calcular qual deve ser a futura participação da companhia no Ibovespa. Esse exercício depende do valor exato da capitalização.
Independentemente do seu tamanho, porém, os gestores de fundos de ações já trabalham com a perspectiva de um aumento considerável da importância relativa da companhia no mercado brasileiro. O papel terá sua importância ampliada consideravelmente no Ibovespa e no MSCI, índice global de ações criado pelo Morgan Stanley.
No Ibovespa, o aumento de participação deve ocorrer ao longo de um ano após a operação, pois o índice é uma média móvel de 12 meses. Já o MSCI, baseado em capitalização de mercado, captura esses movimentos com maior agilidade.
Em relação à perda atual de peso no Ibovespa, Almeida ressalta que isso leva os fundos passivos, que acompanham o índice, a reduzir a participação na Petrobras. Isso alimentaria a perda de relevância no indicador, não fosse a capitalização. Ele menciona ainda a concorrência no setor de petróleo com a OGX, que deve estrear entre as cinco maiores do Ibovespa, com peso de 3,57%.
Comandada pelo empresário Eike Batista, a OGX ganhou exposição no mercado combinando tanto o desenvolvimento de seu negócio quanto a absorção de recursos antes dedicados à Petrobras e que estavam em busca de uma alternativa do setor no país. O valor de mercado da concorrente da estatal saiu de R$ 34 bilhões para R$ 63,6 bilhões no mesmo intervalo em que a Petrobras perdeu mais de R$ 50 bilhões.
A existência de novos papéis no Ibovespa também pode limitar a recuperação de espaço dentro do índice pela estatal. Na segunda prévia divulgada ontem pela bolsa, a unit do Santander e a ação ordinária da Brookfield passariam a integrar o indicador, totalizando 67 ativos, de 61 empresas.
O professor do Insper menciona ainda a alocação setorial das carteiras. "O fundo passivo tem que seguir a composição do índice e o fundo ativo também não vai poder aumentar excessivamente a concentração em Petrobras", afirma o especialista.
O aumento de peso na carteira deve ser garantido, na visão dele, por entrada de dinheiro novo, e não por troca de ativos.
Sob uma perspectiva mais ampla, Almeida vê como positiva a redução atual do peso da Petrobras, uma vez que diversas carteiras de fundos de previdência acompanham o Ibovespa. "Com a diversificação do índice, o investidor fica menos exposto à oscilação do preço do petróleo ou a uma interferência do governo."