Ptivate Equity , comparativa de retorno e risco .
Os recentes estudos nacionais de finanças (Tavares e Minardi, 2010; Silva e Famá, 2011; Minardi et al, 2013; Bastos et al, 2016) tem dedicado especial atenção aos retornos pós-IPO de empresas brasileiras previamente investidas por fundos de Private Equity (PE), comparando-os aos de outras empresas sem este tipo de investimento prévio. Este artigo analisa, a partir de estudo de evento, se as empresas nacionais previamente investidas por fundos PE, cujos IPOs realizaram-se a partir de maio de 2004, obtiveram retornos relativos superiores em suas ações, se comparadas às demais empresas (NPE). Os principais estudos da área até então concentram-se em analisar o retorno anormal acumulado da ação da empresa no período pós-IPO, comparando os dois grupos PE e NPE.
Contudo, não ponderam o
Private Equity gera valor ao acionista? Uma análise comparativa de retorno e risco após o IPO
Revista Brasileira de Finanças (Online), Rio de Janeiro, Vol. 15, N. 1, March 2017 27
desempenho da ação pelo seu risco idiossincrático, obtendo conclusões,
em muito similares, sobre as influências dos fundos PE em tais
performances de mercado.
A contribuição desta pesquisa ao tema e avanço
em sua fronteira de conhecimento reside na ponderação do retorno relativo
do ativo, calculado como uma ratio em face de seu benchmark, pelo seu
risco individual, representado pelo coeficiente beta.
Metodologia Wealth Relative Buy-and-Hold e o ajuste ao risco
individual do ativo
Ritter (1991), Brav e Gompers (1997) e Cao e Lerner (2009) medem
o retorno das ações das empresas investidas por fundos PE em razão de um
índice de referência, através do critério Wealth Relative, baseado na
criação de riqueza ao acionista, ou seja, a razão entre o retorno buy-andhold
da ação da empresa desde o IPO e o retorno buy-and-hold de um
portfólio representado pelo benchmark do mercado, no mesmo período.
Wealth Relative pode ser definida como riqueza relativa criada ao
acionista, decorrente do retorno da ação em face do retorno de um índice
referencial.
Buy-and-hold é uma estratégia muito comum entre
investidores no mercado de ações e consiste em “comprar e segurar”
Mauad, R., Forte, D.
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determinado ativo, com vistas a obter melhores retornos de longo prazo
(long-run), ignorando assim volatilidades de curto prazo.
A fórmula do Wealth Relative Buy-and-Hold (WR) é assim descrita:
𝑊𝑅 𝑡 =
∑ (1+𝑅 𝑖,𝑡 )
∑ (1+ 𝑅 𝑏𝑒𝑛𝑐ℎ 𝑖,𝑡)
(1)
onde
R i,t = retorno buy-and-hold do ativo i no período T, sendo T os
diferentes períodos anuais de 1 até 5 anos após o IPO e,
R bench i, t = retorno do portfólio do mercado (benchmark) no mesmo
período de 1 até 5 anos após o IPO do ativo i.
De acordo com Ritter (1991), um Wealth Relative maior do que 1,00
pode ser interpretado como um melhor desempenho da ação pós-IPO face
ao benchmark e menor que 1,00 pode-se concluir que o IPO teve
performance inferior à carteira de referência.
Os retornos anuais das ações das empresas e do benchmark do
mercado são assim calculados:
R i,t = retorno buy-and-hold da empresa i no período t , sendo t os
diferentes períodos anuais de 1 a 5 anos após o IPO:
𝑅 𝑖,𝑡 =
𝑃 𝑖,𝑡
𝑃 𝑖,𝑡−1
− 1 (2)
R bench i,t = retorno do benchmark (Ibovespa) no mesmo período:
𝑅 𝑏𝑒𝑛𝑐ℎ 𝑖,𝑡 =
𝑃 𝑏𝑒𝑛𝑐ℎ 𝑖,𝑡
𝑃 𝑏𝑒𝑛𝑐ℎ 𝑖,𝑡−1
− 1 (3)
Brav e Gompers (1997) e Gompers e Lerner (2003) propõem
ponderar os retornos pelo valor de mercado das ações. Ritter (1991) calcula
o retorno da ação pós-IPO sem ajustá-lo ao risco, representado pelo
coeficiente beta.
Destaca que os betas das empresas pós-IPO são, na
média, maiores que 1,00 e declinam em períodos futuros após a oferta
pública. A contribuição deste artigo ao tema consiste em ajustar o WR
original ao risco individual da ação, apurado pelo seu beta (β), de modo a
ponderar os retornos relativos, obtidos nos anos posteriores ao IPO, ao
risco do investidor buy-and-hold no mercado brasileiro. Desta forma,
inova-se em relação a trabalhos anteriores sobre o mesmo tema ao propor
o ajuste da fórmula original do WR, utilizada em Ritter (1991), Brav e
Gompers (1997) e Cao e Lerner (2009), ao risco individual da ação
conforme a equação (4), calculando o Wealth Relative Risk Adjusted
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(WRRA).
Esta equação (4) representa a contribuição principal deste artigo
e incorpora à equação (1) o risco idiossincrático do ativo, representado pelo
seu coeficiente beta.
𝑊𝑅𝑅𝐴 𝑡 =
∑ (1+𝑅 𝑖,𝑡 )
∑ (1+ 𝑅 𝑏𝑒𝑛𝑐ℎ 𝑖,𝑡)
𝑥
1
𝛽𝑖,𝑡
(4)
Ou, escrito de forma simplificada:
𝑊𝑅𝑅𝐴 𝑡 =
𝑊𝑅 𝑡
𝛽𝑖,𝑡
(4a)
Onde βi representa o beta do ativo, calculado pela covariância entre
os retornos mensais do ativo i e os retornos mensais do benchmark,
divididos pela variância dos retornos mensais do benchmark, todos
calculados nos períodos t de 1 a 5 anos pós-IPO.
𝛽𝑖,𝑡 =
𝐶𝑜𝑣 (𝑅𝑖,𝑡; 𝑅𝑏𝑒𝑛𝑐ℎ,𝑡)
𝑉𝑎𝑟 (𝑅𝑏𝑒𝑛𝑐ℎ,𝑡)
(5)
Apresentam-se assim três possibilidades: 1. Se o beta do ativo for
exatamente igual ao beta da carteira representada pelo Índice Bovespa, ou
seja, 1,00, o WRRA em t será exatamente igual ao WR no mesmo período
t.; 2. Em casos de ativo com beta menor que 1,00, ou seja, com menos risco
que a carteira de mercado, o WRRA em t será maior do que o WR em t e;
3. Caso o beta seja > 1,00, ou seja, o ativo apresenta mais risco se
comparado ao benchmark, em t o WRRA será menor que o WR.
As cotações das ações, fornecidas pelo portal Bloomberg, referem-se
a períodos anuais t de 1 a 5 anos após a oferta pública e foram ajustadas a
proventos, para capturar o efeito dos dividendos, juros sobre capitais
próprios, bonificações, splits e inplits.
Os dados dos coeficientes beta também são fornecidas pelo portal
Bloomberg, calculados a partir dos retornos mensais do ativo em função
dos retornos mensais do Índice Bovespa, a partir da data do IPO.
Os
diferentes betas dos períodos t, calculados sobre retornos mensais, utilizam
dados menos voláteis do que aqueles calculados sobre retornos semanais
ou diários. Obtém-se então um beta na mesma periodicidade dos retornos
relativos estudados, de forma a mensurar o retorno relativo do período em
face do risco incorrido no mesmo período.
Os resultados obtidos com a análise dos retornos das ações de
empresas PE e NPE encontram-se no capítulo 4.
Opta-se por mantê-los em
resultado puro e não porcentagem, ou seja, resultados acima de 1,000
significam um desempenho superior ao Ibovespa no período e resultados
abaixo de 1,000 traduzem um retorno inferior ao benchmark, sejam os
Mauad, R., Forte, D.
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retornos simples sem ponderação ao risco ou calculados em face do risco
individual do ativo, incorporado à formula pelo coeficiente beta do
período.
São usadas as seguintes variáveis na construção dos modelos:
Wealth Relative (WR): riqueza relativa criada ao acionista ou o
retorno relativo da ação da empresa em face do benchmark, sem a
ponderação pelo risco individual, baseada em Brav e Gompers (1997) e
Cao e Lerner (2009) e obtida a partir da fórmula descrita em (1). Foram
calculados os retornos WR de 1 a 5 anos, após a data do IPO da empresa
(WR1 a WR5). As cotações das ações e do benchmark Ibovespa, ambas
ajustadas a proventos, são fornecidas pela base de dados Bloomberg.
Wealth Relative Risk Adjusted (WRRA): riqueza relativa criada ao
acionista ou o retorno relativo da ação da empresa em face do benchmark,
baseada em Brav e Gompers (1997) e Cao e Lerner (2009), e adaptada ao
risco individual do ativo, calculada a partir da fórmula descrita em (4) e
(4a). Foram obtidos os retornos WRRA de 1 a 5 anos, após a data do IPO
da empresa (WRRA1 a WRRA5).
As cotações dos coeficientes beta
utilizados são calculadas e fornecidas pela base de dados Bloomberg.
Private Equity (PE): variável dummy indicando a presença de um
fundo PE na composição acionária da empresa, por ocasião do IPO, sendo
1 para a presença do fundo e 0 na ausência.
Segmento de Mercado (SM): variável dummy para o segmento de
listagem da BM&FBovespa onde a ação da empresa é negociada, de
acordo com as regras de governança corporativa. Assume valores de 1 para
as empresas negociadas no Novo Mercado (NM), nível máximo de
governança corporativa e 0 para os demais segmentos, Níveis 1 e 2, BDRs
e segmento tradicional. Os dados são fornecidos pela BM&FBovespa.
Logaritmo natural do Volume da Oferta Primária (l_VOP): variável
para o volume total de recursos captado pela empresa em oferta primária,
por ocasião do IPO.
O volume captado nestas condições representa novas
ações emitidas a novos acionistas e o montante é direcionado ao caixa da
empresa e não aos acionistas originais. Para Kaplan e Schoar (2005)
empresas com acesso a uma quantidade maior de recursos no IPO podem
realizar melhores investimentos e assim, proporcionar melhores retornos
aos acionistas. Utilizada por Jain e Kini (1995), Tavares e Minardi (2010),
Ferrari e Minardi (2010). O volume da oferta primária é fornecido
diretamente pela BM&FBovespa e o logaritmo natural é calculado sobre
os dados.



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