Ritual de lo habitual
Segunda com cara de... segunda. Os mesmos indicadores de início de semana, o conteúdo de sempre.
A praxe? Mais inflação e menos crescimento, agora na versão 2015.
A perspectiva dos agentes de mercado para o índice oficial de inflação (IPCA) para 12 meses à frente passou de 6,55% para 6,57% de uma semana para cá, ambos estourando o teto da meta atual. Para 2015, foi de 6,45% para 6,49%.
Já no que diz respeito ao crescimento, o relatório Focus ajustou de 0,20% para 0,19% a projeção para este ano, e de 0,80% para 0,77% a de 2015.
Bom, é torcer para que seja o custo do ajuste fiscal. Ou “um ou dois anos” de algum sofrimento, como disse o recém empossado ministro Nelson Barbosa, como um meio para justificar um fim em potencial.
Pequena nuance: como todos duvidam da profundidade e da extensão do ajuste, o custo fica maior. Ninguém dará ao governo o benefício da dúvida.
O fim da festa
Após uma primeira reação imediata eufórica, os mercados já parecem bem mais reticentes quantos aos potenciais milagres da nova - e paradoxal - equipe econômica.
Sim, é o mesmo Levy do Lula I, mas envolto por cenário totalmente divergente.
Do Lula I para o Dilma II, passamos da herança bendita de economia recém estabilizada para herança maldita de uma economia a passos largos rumo à desestabilização.
Do super ciclo das commodities, com demanda irrestrita, minério de ferro acima de US$ 150 por tonelada, descoberta do pré-sal e projeções de petróleo na casa de US$ 200 por barril...
...temos minério em pisos históricos, projeções de preço do petróleo a US$ 40 e questionamentos quanto à viabilidade do pré-sal. Tudo somado a panorama político muito mais conturbado.
Pré-sal em risco
Enquanto todas as manchetes destacam o maior escândalo de corrupção corporativa da história do Brasil, com desdobramentos óbvios sobre as ações da Petrobras (falamos sobre eles na semana passada), a variação do cenário macro adiciona outra ameaça relevante para a estatal.
O preço do barril de petróleo Brent atingiu US$ 69 no mercado internacional, diante da desaceleração de consumo combinada a negativa da Opep em cortar a produção.
O governo afirma que, para cobrir o custo de capital do pré-sal, a Petrobras está “protegida” até com o petróleo a US$ 45/barril. Com o desenvolvimento do gás de folhelho e os EUA se tornando exportadores da commodity, uma importante mudança estrutural, porém, parte do mercado projeta a commodity em busca de US$ 40, o que inviabilizaria o pré-sal.
De concreto, a cotação atual já altera substancialmente o cenário de investimentos projetado pela Petrobras. Lembrando que, no Plano de Negócios da estatal para o invervalo de 2013 a 2017 toma por base um petróleo estabilizado a US$ 100 por barril no longo prazo.
O “golpe” da Opep
Poxa, mas por que raios a Opep não corta essa oferta e puxa os preços para cima?
Há uma possível explicação: basicamente, porque é o único cara que produz petróleo comercialmente viável a este nível de preços.
Ela abre mão de margens por ora mas ganha mercado a longo prazo, no que pode ser uma estratégia para destruir o restante da curva de produção.
Nestes níveis, não atinge apenas o pré-sal, mas também a produção de águas profundas do Golfo do México e o próprio Shale Gas de Canadá e EUA. Farm out na Namíbia, então, nem pensar...
O “golpe” do minério
Nessa inversão de ciclo das commodities, diante dos indícios de desaceleração da economia chinesa o preço do minério de ferro é outro que encontra em níveis excepecionalmente baixos, buscando patamares inferiores a US$ 70 por tonelada no mercado à vista chinês.
O caso é como o do petróleo, mas às avessas... A Vale é quem possui a maior produção e os ativos de melhor qualidade do mundo, e a queda do preço do minério inviabiliza os produtores de alto custo, que não têm as mesmas vantagens de escala.
Vale perde margens de momento e precisa ajustar novamente a sua ponta de custos e despesas operacionais, mas, olhando a coisa de forma mais ampla, o movimento acaba expulsando o produtor marginal e, no longo prazo, ela tem potencial para ganhar mercado.
O fiel da balança aqui pode ser o governo chinês, com potenciais incentivos ao pequeno produtor local...
Mas isso não elimina o poder de barganha e a dependência dos Chinas das três grandes mineradoras (Vale, BHP e Rio Tinto).
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