É hora de desistir das ações da Petrobras?
Para investidor de longo prazo, Petrobras ainda pode ser uma boa opção, mas bons resultados devem demorar a aparecer
Aumento dos preços dos combustíveis abaixo do esperado e mudanças na política de dividendos impactaram ações da Petrobras negativamente
São Paulo – Os acontecimentos dos últimos dias vêm fazendo as ações – e os acionistas – da Petrobras sofrerem um bocado. Mas desde 2008, com os efeitos da crise internacional, e principalmente de 2010 para cá, investir na Petrobras não vem sendo exatamente um bom negócio. Para quem ainda é acionista da estatal, é hora de desistir?
Na opinião de especialistas, para quem é investidor de longo prazo, que já investe nos papéis da estatal há muitos anos, a resposta é não. “Se suportou até agora, é porque é um investidor de longo prazo, pois quem aplica para o curto prazo já saiu do papel”, observa Pedro Galdi, analista de investimentos da SLW Corretora. “O investidor de longo prazo não deve sair, deve aguardar os resultados mais significativos do pré-sal, lá para 2020”, completa.
E não é apenas uma questão de esperar por uma melhora de resultados que ainda deve demorar a ocorrer. Quem já está com a ação há muitos anos já teve uma perda grande, difícil de recuperar com a taxa de juros (Selic) no patamar atual de 7,25% ao ano. Desde o início de fevereiro de 2008, as ações preferenciais (PETR4) tiveram perda de 48%, enquanto que as ordinárias (PETR3) recuaram 62%. Mesmo quem entrou mais tarde, na capitalização de setembro de 2010, perdeu 31% nas preferenciais e 40% nas ordinárias. Enquanto isso, a taxa de juros CDI, que baliza uma série de aplicações em renda fixa, rendeu 63% em cinco anos e 25% desde a capitalização da Petrobras.
“Eu separaria em dois grupos de investidores: quem já investiu há um bom tempo não tem muito que fazer hoje. A decisão deveria ter sido tomada antes, ao perceber os sinais da estratégia da Petrobras. O segundo grupo, que comprou as ações de três anos para cá, já dentro do movimento declinante, foi atraído pelo preço desvalorizado. Aí a conta é diferente. Provavelmente a resposta seria vender as ações e entrar em um setor menos complicado”, diz Paulo Bittencourt, diretor da Apogeo Investimentos, empresa de investimentos voltada para a pessoa física do grupo Vinci Partners.
Ele diz que, de uns três anos para cá, ficou claro que a estatal se volta mais para os interesses do país do que do acionista, ao tomar atitudes como postergar o aumento do preço dos combustíveis, o que costuma ter impacto negativo na inflação. Além disso, quem já investe na empresa há mais tempo pegou uma era de juro mais alto. O custo de oportunidade – o custo daquilo que o investidor deixa de ganhar em uma aplicação mais conservadora para se arriscar em algo potencialmente mais rentável – foi bem menor para quem comprou as ações há menos tempo, já com o juro real mais baixo.
Ou seja, para o investidor mais antigo realmente vai ser bem mais difícil recuperar as perdas. “Antigamente, era rápido recompor o patrimônio na renda fixa, após uma grande perda com ações. Hoje, já não dá para fazer isso”, diz Bittencourt. Ele lembra ainda que, para o investidor de três anos para cá, realizar o prejuízo pode não ser um desastre, uma vez que as perdas podem ser abatidas do imposto de renda que deverá ser pago quando esse investidor tiver lucro na Bolsa.
“Não dá para dizer que no curto prazo vai haver uma recuperação. Mas o que conta mesmo para a decisão de vender ou não é o ciclo do investidor. Você precisa desse dinheiro? Em quanto tempo vai precisar dele? Há uma máxima que diz que o mercado pode se manter em baixa por mais tempo do que você pode se manter solvente. Se você nem pensa naquele dinheiro, melhor deixá-lo ali. Mas se o dinheiro está fazendo falta, melhor vender”, diz Bittencourt.
Quem investiu o FGTS tem alternativa
Os trabalhadores que investiram até 50% do seu Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em um fundo de ações da Petrobras em agosto do ano 2000 podem estar se perguntando o que fazer, se é que ainda não tiveram a oportunidade de resgatar esses recursos para comprar um imóvel ou mesmo por uma demissão sem justa causa. Quem permanece com esses valores investidos não pode resgatá-los, a menos que seja para transferi-los para um investimento alternativo.
Os fundos mútuos de privatização (FMP) que investem em ações da Petrobras acumularam alta de 350% até o final de 2012. Foi menos do que a taxa de juros DI, que acumulou alta de 430% no mesmo período. Aqueles que ainda tiverem recursos no fundo e quiserem desistir têm a opção de retornar ao FGTS, mas a rentabilidade ali é de 3% ao ano mais Taxa Referencial (TR), inferior até mesmo ao rendimento atual da poupança. No mesmo período de agosto de 2000 a dezembro de 2012, o retorno do FGTS foi de meros 81%.
A alternativa para tentar diversificar e ganhar mais, diminuindo o risco de concentrar o investimento de seus recursos em ações da Petrobras é migrar para um FMP-FGTS Carteira Livre, um tipo de fundo que pode investir em mais ações, assim como em ativos de renda fixa, como debêntures, e outros instrumentos financeiros que protejam o patrimônio do fundo. Oura opção é destinar parte dos recursos a cada um dos três tipos de fundo.
Recuperação deve ser lenta
Nos últimos dias, o preço das ações foi impactado por uma série de acontecimentos. O reajuste dos preços da gasolina e do diesel abaixo do esperado no dia 30 de janeiro fez ações preferenciais e ordinárias recuarem por volta de 5% naquele dia. Os preços dos combustíveis continuam defasados em relação a patamares internacionais, enquanto aqui no Brasil as altas expectativas de inflação não permitiram um reajuste maior.
Já os resultados do quarto trimestre e do ano de 2012 divulgados no dia 4 de fevereirofizeram as ações ordinárias recuarem mais de 8% no pregão desta terça-feira. O principal motivo foi a decisão da companhia de cortar os dividendos pagos para as ações ordinárias(PETR3), aquelas que têm direito a voto, quando antes ambos os papéis recebiam o mesmo valor dos lucros da estatal. Essa foi uma das formas encontradas pela Petrobras para preservar caixa e conseguir manter seus investimentos.
Além disso, outros fatores impactaram o preço das ações, como a previsão do aumento dos investimentos em 2013, o grande endividamento da empresa, uma expectativa de crescimento da produção de petróleo apenas em 2014 e o prejuízo na divisão de refino, que deve continuar no vermelho nos próximos trimestres. Em função disso, bons resultados ainda não devem chegar neste ano para ajudar a recuperar os preços das ações. Mesmo assim, há otimismo para a estatal a partir de 2014.
O BB Investimentos colocou o preço da Petrobras em revisão, uma vez que o nível de produção de óleo deve permanecer em 2013 no mesmo patamar do ano passado, o que não deve gerar aumento significativo de receita, diz seu relatório sobre os resultados da estatal. Mesmo assim, as analistas Andréa Aznar e Carolina Flesch esperam resultados positivos para o ano em função das estratégias da companhia para preservar caixa e manter investimentos, como os desinvestimentos em alguns ativos, os programas de aumento de produtividade e cortes de custos.
“Não considero que seja o caso de se desfazer das ações da Petrobras, mas entendo que mais uma vez o ano será de paciência”, diz Andréa Aznar, analista do BB Investimentos. As analistas destacaram, em entrevista a EXAME.com, que no segundo semestre devem entrar em operação novas plataformas, que a companhia tem bons projetos e que a produção de petróleo e gás do pré-sal, frente à produção total, vem aumentando, tendendo a crescer ainda mais com o passar dos anos.
A corretora Um Investimentos tem a Petrobras em sua carteira recomendada de ações. O analista Gabriel Ribeiro vê bastante potencial para o papel, apesar dos riscos de exploração e do risco político. Ele considera que o papel esteja descontado, o que é uma oportunidade para o investidor. “A Petrobras tem diversos projetos que devem apresentar um aumento de produção a partir do segundo semestre”, disse Ribeiro em entrevista.
Apesar disso, o analista reconhece que é preciso cautela. “O endividamento da companhia tem crescido e não foi apresentada nenhuma nova medida para diminuir essa alavancagem. Também faltam informações sobre quantos ativos serão vendidos e os prazos para as novas plataformas entrarem em operação”, diz. Para ele, uma melhora para a ação só deve começar no segundo semestre.
Para Pedro Galdi, da SLW, porém, não é hora de comprar ações da Petrobras. “Existe o risco de ingerência do governo. Melhor diversificar seus investimentos com outros papéis, de outros setores que não o de petróleo”, diz.
Veja no vídeo a seguir com mais detalhes os 5 pontos principais sobre por que a Petrobras caiu tanto na Bolsa:


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