O lucro do banco BTG Pactual ficou para depois O
O banco BTG Pactual tinha uma meta ao comprar o PanAmericano: seus resultados deveriam melhorar trimestre a trimestre. Mas o ano vai acabar antes de o lucro chegar
Acar e sua equipe no escritório do Panamericano: “Não dá para fazer milagre em tão pouco tempo”
São Paulo - Quando assinou a compra do banco PanAmericano, em janeiro de 2011, André Esteves, controlador do BTG Pactual, tinha motivos para considerar aquele um dos melhores negócios de sua carreira. Primeiro, porque recebeu uma ajuda do Fundo Garantidor de Créditos para sanear as finanças do banco, que quase quebrou após a descoberta de uma fraude bilionária.
E também porque ganhou um prazo camarada de 17 anos para quitar a aquisição. Fora isso, a Caixa Econômica Federal, que passou a ser sócia do PanAmericano, comprometeu-se a comprar as carteiras de crédito da instituição, o que proporciona mais capital para o crescimento.
Passados 20 meses, porém, a realidade está se provando mais complicada. O PanAmericano não cumpriu as metas traçadas por Esteves e sua equipe — a principal era ter lucro ao longo deste ano. Agora, o objetivo foi adiado para 2013. “É melhor crescer com qualidade. Estamos sendo pacientes”, disse Esteves numa teleconferência com investidores, em agosto.
O plano original era que os resultados do PanAmericano melhorassem trimestre a trimestre após a aquisição. Ocorreu o contrário. Depois de lucrar 76 milhões de reais nos primeiros três meses de 2011, o banco teve prejuízo de 262 milhões de reais de abril a junho deste ano, o maior de sua história.
Também acumulou uma perda operacional de 413 milhões de reais, ante um lucro de 159 milhões no início do ano passado. Com os resultados atuais, o PanAmericano diminuiu 10% o lucro do BTG no segundo trimestre deste ano. “Não dá para fazer milagre em tão pouco tempo”, diz José Luiz Acar Pedro, presidente do banco.
Ninguém gosta de perder dinheiro, mas, no caso do PanAmericano, o prejuízo traz uma dor de cabeça adicional. Como está no vermelho, a instituição não consegue aproveitar um crédito tributário de 2,5 bilhões de reais, obtido após a vitória em ações judiciais que contestaram o pagamento exagerado de tributos. Esse valor só pode ser abatido do pagamento de impostos do banco caso a instituição dê lucro.
Em parte, o prejuízo do banco se deve a um erro de análise de seus executivos no segmento de financiamento de veículos. Apesar de ter diagnosticado problemas nesses empréstimos — como o aumento da inadimplência, especialmente entre os compradores de automóveis usados —, a cúpula do PanAmericano decidiu continuar aumentando a concessão de crédito.
A consequência foi uma alta inesperada dos calotes, o que obrigou o banco a elevar 29% a provisão para cobrir eventuais perdas com devedores. É verdade que o PanAmericano não foi o único que sofreu com o aumento dos calotes nos últimos meses, mas esse cenário é mais nocivo para ele porque 65% de suas receitas dependem do segmento de veículos.
A avaliação, agora, é que essa área deve crescer mais devagar. A meta é diminuir a participação do financiamento de veículos nas receitas para 45% em três anos. O banco já cortou em cerca de 40% as comissões pagas às concessionárias de automóveis, com o objetivo de reduzir o crescimento do crédito.
Imóveis
Para ocupar o lugar dos financiamentos de veículos, a aposta é o crédito imobiliário: o objetivo é que ele responda por cerca de 20% das receitas até 2015 (hoje, a fatia é inferior a 1%). Essas operações ficam concentradas na empresa financeiro-imobiliária Brazilian Finance & Real Estate, comprada em dezembro do ano passado e que está sendo integrada ao PanAmericano.
O crédito imobiliário será oferecido nas agências do banco. A carteira da Brazilian Finance é pequena — faz 100 milhões de reais em novos financiamentos por mês, em média, ante 1,2 bilhão de reais do Bradesco, por exemplo —, mas o plano é aumentá-la com mais empréstimos à alta renda, um nicho em que o banco acha que pode ser competitivo.
Bradesco, Itaú e outros concorrentes de grande porte são fortes no crédito feito com recursos da poupança, que tem juros mais baixos, mas essa linha só pode ser contratada por quem compra um imóvel de até 500 000 reais.
Com a intenção de melhorar os resultados no curto prazo, o banco passou a cortar custos: fechou 68 agências, cancelou 200 000 contas de cartões de crédito inativas há mais de um ano, revisou todos os contratos com os fornecedores e integrou as equipes comerciais. De olho no longo prazo, diminuiu 44% a cessão de créditos a outras instituições.
Muitos bancos médios repassam sua carteira de empréstimos a concorrentes de maior porte, cobrando por isso, como forma de obter recursos para crescer. Essa prática era bastante utilizada pelo PanAmericano antes da aquisição pelo BTG (aliás, as fraudes descobertas pelo Banco Central ocorreram em operações do gênero).
Como os sócios fizeram um aporte de capital de 1,7 bilhão de reais no banco no início do ano, o PanAmericano não precisa vender suas carteiras. A medida foi considerada boa pelos analistas porque significa que o banco receberá esses recursos ao longo de anos, e não de uma só vez. Se os negócios forem bem, a tendência é que os créditos se valorizem no futuro.
O PanAmericano é o único braço do BTG que dá prejuízo. O banco investe em dezenas de empresas, como a rede de academias Bodytech e os estacionamentos Estapar — o plano é revendê-las no futuro com lucro. Mas isso não se aplica ao PanAmericano.
Executivos do BTG dizem que o objetivo é melhorar os resultados para criar uma instituição forte no varejo bancário. Em junho, o BTG negociou a compra do banco Cruzeiro do Sul, que foi liquidado recentemente pelo BC, para uni-lo ao PanAmericano — o negócio naufragou por falta de apoio do FGC (procurado, o BTG não quis falar sobre o assunto).
O ponto fraco do PanAmericano é comum à maioria dos bancos médios: a dificuldade de concorrer com os bancões, que estão atuando com mais força em segmentos antes dominados por instituições menores, como o crédito consignado e o de veículos. Mas, para os analistas, o PanAmericano tem uma vantagem: conta com a Caixa como fonte de captação de recursos e está implementando um plano de ajustes que pode torná-lo mais competitivo.
Neste ano, os papéis do banco vão mal: a queda é de 17%, ante uma valorização de 7% do Ibovespa e de 14% da média das instituições financeiras. O plano para virar o jogo está traçado. Só falta, desta vez, que ele seja transformado em realidade.


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