Itaú lidera mercado de private com R$ 130 bi sob gestão
Celso Scaramuzza: proposta do private bank é participar mais dos negócios dos clientes fora da área financeira
Boa parte do crescimento refletiu o desenvolvimento do próprio setor de private brasileiro, afirma Scaramuzza. O setor foi beneficiado nos últimos anos pelo crescimento da economia que, além de fazer os empresários ganharem mais, incentivou as operações de venda de empresas ou aberturas de capital. Com isso, mais pessoas passaram a ter grandes fortunas para gerir.
Essa série de eventos de liquidez permitiu ao Itaú Private crescer acima dos 25% ao ano registrados pelo setor, diz o executivo, citando estimativas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). "Conseguimos um ganho importante de mercado", diz Scaramuzza. Segundo ele, a fatia do Itaú passou de 22% para 27,5% de 2008 para cá.
No ano passado, e até o primeiro semestre deste ano, a área vinha crescendo a um ritmo de 28% ao ano, ainda acima da média do mercado, diz Scaramuzza. "Mas agora, com essa crise internacional forte, devemos crescer um pouco menos, talvez fechar o ano com um aumento de 25% dos ativos", diz o executivo.
Além do ritmo menor da economia e dos negócios provocado pela crise, há o adiamento de ofertas públicas e de fusões e aquisições. A queda das ações - e também dos juros prevista para ocorrer este ano - limita também o crescimento nominal dos ativos, lembra ele.
Mas, para Scaramuzza, o crescimento forte e robusto do setor de fortunas no Brasil vai continuar ocorrendo nos próximos anos pela troca de mãos do dinheiro e pela geração de fortunas que vem com crescimento do país. Enquanto em outros países essa riqueza cresce 7% a 8% ao ano, ou até pode ficar estagnada no caso dos países desenvolvidos, no Brasil o ritmo é de 12% a 15% ao ano, parecido com o das potências asiáticas.
O banco foi beneficiado também pela retração dos concorrentes internacionais, que foram afetados pela crise de 2008 em suas matrizes e reduziram sua presença no país. Muitos investidores também trocaram os estrangeiros por bancos locais. "Temos uma situação privilegiada de conhecer bem o Brasil e ter uma oferta de serviços global", afirma Scaramuzza.
O patrimônio sob gestão, equivalente a US$ 80 bilhões, dá ao banco um porte de instituição internacional. "Somos um private focado em Brasil e América Latina com presença global", diz Scaramuzza, lembrando que a instituição recentemente comprou uma gestora de fortunas no Chile.
Essa experiência local e o conhecimento global fazem diferença no momento em que o mercado brasileiro está bem e os estrangeiros voltam a se estabelecer aqui, afirma Scaramuzza. "O mercado é bem competitivo", diz. "Mas nunca saímos do mercado, nunca abandonamos o negócio, e isso são coisas que pesam no fim do dia".
Além do exterior, o banco quer crescer na gestão de fortunas no Rio Grande do Sul, onde está ampliando seu escritório, e em Belo Horizonte, que vai atender a região Centro-Oeste e Nordeste.
O Itaú Private tirou vantagem também da forte presença do banco no setor de fusões e aquisições e de aberturas de capital via Itaú BBA. "Isso nos permitiu antecipar os negócios com as empresas e complementar os serviços para o cliente que deixava de ser empresário e passava a ser um grande investidor", lembra.
Neste mês, o private começou uma campanha destacando a parceria com o cliente. A proposta é oferecer a experiência do banco para ajudar em negócios não só no sistema financeiro, mas também em empreendimentos empresariais. "Queremos atuar mais como sócio do que como o gerente do outro lado da mesa", diz Scaramuzza.
Para isso, o private vai reforçar sua área de banco de investimentos, que hoje já tem mais de 30 mandatos de operações médias, de R$ 30 milhões a R$ 500 milhões, em andamento. A área existe desde 2009 para ajudar em operações que não se enquadram no perfil do Itaú BBA. "Isso nos ajuda a olhar outros aspectos da vida do cliente, não só investimentos em fundos ou bolsa", afirma Scaramuzza.
Os serviços vão desde um empréstimo, capitalização da empresa, um novo sócio, até ajuda no processo sucessório. Muitas vezes, a sucessão acaba levando à venda da empresa ou à compra de concorrentes, diz Scaramuzza.
Segundo ele, o crescimento, além das condições propícias de mercado, é fruto também de pesados investimentos em infraestrutura e equipe. "Mais de 70% dos nossos "bankers" [gerentes de contas] são certificados pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF), acima da meta da Anbima, de ter 50% em 2013", diz.
Na crise recente, Scaramuzza diz que a orientação foi acalmar os clientes que tinham ações. "Mas em geral a parcela em renda variável ainda é pequena nas carteiras, apenas um ou outro cliente estava mais aplicado", diz. Segundo ele, o mercado ainda deve continuar volátil. "Mas os preços ainda estão atrativos, quem não tem ações ou tem pouco pode aproveitar para comprar, gradualmente", afirma.


<< Página inicial