dezembro 05, 2010

Problemas do Carrefour no Brasil começaram bem antes do rombo

Comodismo na estrutura da empresa, entrada tardia no e-commerce e problemas de logística estão entre os motivos

Loja do Carrefour

O Carrefour é o maior varejista da Europa e o segundo do planeta
São Paulo – Terceiro maior mercado do Carrefour no mundo, o Brasil é uma de suas maiores esperanças para continuar crescendo em ritmo acelerado. Um bom desempenho por aqui significa o antídoto das dificuldades enfrentadas pela rede na Europa, onde estão 77% de seu faturamento – e uma das maiores crises econômicas dos últimos tempos.

Os números do grupo no país, em si, não são ruins. Somente no terceiro trimestre, as vendas cresceram 13,1% sobre o mesmo período do ano passado. Taxas de crescimento de dois dígitos só foram vistas pelo Carrefour em outros três países em que opera: na Argentina (25,3%), Colômbia (12,1%) e China (16,1%).
Mas a descoberta de um rombo de 1,2 bilhão de reais nas contas da operação brasileira, antecipada pelo blog Primeiro Lugar, de EXAME, mostra que o Carrefour não está tomando os devidos cuidados para defender um mercado tão estratégico.
Segundo analistas de varejo consultados por EXAME.com, o Carrefour também enfrenta outras dificuldades no país, fruto de um certo comodismo decorrente da posição consolidada, aliada a um modelo tradicional de negócios. “O Carrefour sempre teve uma postura mais reativa. Só tomava alguma atitude quando via o avanço e inovação dos concorrentes”, afirma um consultor.
O próprio presidente mundial da rede, o francês Lars Olofsson, reconhece que houve problemas de gestão . “O que aconteceu foi claramente um mau funcionamento”, afirmou ele durante teleconferência com analistas e investidores, segundo a agência Dow Jones. “O Brasil é um mercado prioritário e não vamos deixar o país.” Veja alguns dos principais tropeços do Carrefour.
Dependência do modelo de hipermercado
Metade das vendas do Carrefour vem dos hipermercados, que representam quase metade das 611 unidades da rede no país. Em 1999, a empresa integrou as operações da rede Dia, mais regionalizada. Ainda assim não foi suficiente para fazer frente ao crescimento das concorrentes, que ampliavam os modelos. O Assai, do grupo Pão de Açúcar, responde hoje 9,5% do faturamento total. O grupo tem ainda outros seis modelos de supermercados, o que mostra uma forte diversificação.
Para reforçar sua presença, em 2006 o Carrefour lançou a bandeira Carrefour Bairro, hoje presente em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. “Para compras de reposição o consumidor prefere o mercado perto de casa, de menor porte”, afirmou um analista de varejo. “Esse é um movimento mundial e o Carrefour demorou para perceber isso.”
A rede francesa afirmou que priorizará a expansão de lojas com formatos menores e da rede Atacadão. A empresa pretende ainda converter alguns hipermercados Carrefour para lojas do Atacadão, rede adquirida em 2007. Recentemente houve a abertura de sete novas unidades e transformação de um Hipermercado localizado em São Miguel (SP) em Atacadão, garantindo a adequação do formato às oportunidades da região, além da inauguração de um hipermercado Carrefour em Belo Horizonte.