A oportunidade de consolidar o mercado era clara, e o BTG foi o primeiro a perceber isso. A abertura do capital da BR Pharma, em junho de 2011, foi o maior símbolo do sucesso da primeira fase da empreitada. Mas, desde então, as coisas ficaram mais difíceis.
Liderança distante
Em 2012, duas fusões de grandes redes — Droga Raia com Drogasil e Pacheco com São Paulo — deixaram a liderança distante da BR Pharma. Essas redes faturam entre 5 bilhões e 6 bilhões de reais.
Enquanto as líderes se concentram em São Paulo e no Rio de Janeiro, a BR Pharma é formada por redes pequenas e médias e distantes geograficamente: Guararapes, em Pernambuco, Rosário Distrital, no Centro-Oeste, Mais Econômica, no Rio Grande do Sul, Sant’anna, na Bahia, e Big Ben, no Pará. Em São Paulo, a BR Pharma tem a rede Farmais.
Para fazer o tamanho valer, seria preciso integrá-las. Mas, para fechar as compras na velocidade que queria, o BTG fez concessões que atrasaram a integração — entre elas, manter os sócios à frente de suas respectivas empresas por alguns anos. Essa estrutura de comando, naturalmente, criou dificuldades.
Os antigos donos de redes barraram, há pouco mais de um ano, a escolha de Álvaro Silveira Júnior, da Rosário, para ser vice-presidente e coordenar a integração. Temiam que ele beneficiasse sua rede e prejudicasse as outras. A BR Pharma acabou contratando para o cargo Carlos Alberto Dutra, da concorrente Drogasil, demitido um ano depois.
As coisas começaram a se acertar quando os donos das redes Sant’anna, Guararapes e Mais Econômica deixaram os negócios (hoje, só os ex-controladores de Rosário e Big Ben continuam na operação). Sem tanta gente para palpitar, Silveira Júnior finalmente assumiu o posto em outubro. No fim de novembro, a empresa contratou também José Ricardo Mendes, ex-presidente do Aché, para a vice-presidência de estratégia e finanças.
O maior desafio da dupla é aumentar a eficiência das lojas. A BR Pharma vai bem em vendas. Faturou nos primeiros nove meses do ano 2,5 bilhões de reais, 14% acima do mesmo período do ano passado. Mas a rentabilidade final é baixa: a margem líquida foi de 1,7%, bem abaixo dos 2,7% da Raia Drogasil, líder do setor.
A falta de integração entre as redes pesa nos custos. Até hoje a BR Pharma não conseguiu unificar a área de compras em São Paulo, como estava planejado. A variedade de produtos entre as redes também atrapalha. A Big Ben vende livros, celulares e até cerveja. A Rosário tem lojas tradicionais, que vendem remédios e perfumaria.
Aguilera, por exemplo, foi contrário à ideia de unir as compras em São Paulo, com medo de perder a agilidade na negociação com fornecedores. Numa tentativa de aumentar sua margem de lucro, a BR Pharma negociou a compra da distribuidora de medicamentos Profarma. Mas o próprio BTG desistiu ao perceber que fazer outra aquisição atrapalharia ainda mais uma integração que já é complicada o bastante. O valor de mercado da BR Pharma caiu 44% em 2013. As ações da concorrente Raia Drogasil perderam bem menos: 19%.
Avançar na integração é essencial para que o BTG consiga lucrar com a venda da empresa no futuro. Segundo o analista Guilherme Assis, do banco Brasil Plural, os esforços para melhorar a rentabilidade indicam que “a Brasil Pharma está tentando se tornar um alvo interessante”.
Recentemente, a empresa negociou sua venda para o grupo petroquímico Ultra. Mas as conversas não avançaram e o Ultra acabou comprando em outubro, por 1 bilhão de reais, a Extrafarma, de Belém. Procurado, o Ultra não comentou. O BTG informou que “não teve e não tem interesse em vender qualquer participação na Brasil Pharma”. Com a queda das ações neste ano e resultados fracos, não parece mesmo um bom momento para vender. A hora é de arrumar a casa — nisso todos os sócios concordam