junho 29, 2011

Carreçúcar não teria vingado sem ok de Dilma


Segundo o blog apurou, o empresário Abílio Diniz só teria se decidido pela fusão com o Carrefour depois de consultar o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que por sua vez teria recebido o sinal verde da presidente Dilma Rousseff.
Recentemente, Diniz procurou Coutinho para falar da fusão. Seu argumento principal era a iminente oferta hostil do grupo francês Casino — sócio do Pão de Açúcar e maior competidor do Carrefour.
Diniz também teria descrito ao presidente do BNDES o formato da fusão, que conta com a participação do grupo Gama, de André Esteves.
A aprovação do governo era crucial para a engenharia financeira do novo “Carreçúcar”, que só ficaria de pé com o investimento de 4,5 bilhões de reais a ser feito pelo BNDES.
Como bons adeptos da escola desenvolvimentista, tanto Dilma quanto Coutinho apoiam a criação de “campeões nacionais”, como deverá ser a nova cadeia de varejo.
Se aprovada pelo Cade, ela deverá abocanhar cerca de 30% do mercado do país.
E é bom lembrar também que Diniz, que apoiou a candidatura de Dilma à presidência, goza da admiração dela.
Ele é um dos conselheiros da Câmara de Gestão e Competitividade do Planalto, que visa aprimorar a gestão da máquina federal.
Na cerimônia de lançamento da iniciativa, no dia 11 de maio, Dilma fez elogios rasgados a ele:
“O meu amigo Abilio Diniz dispensa apresentações. Não poderíamos contar com conselheiro mais oportuno do que o maior empreendedor brasileiro do ramo de varejo, distribuição e logística. Atender bem o consumidor, no tempo certo e da forma adequada é ensinamento de grande utilidade para o governo — para qualquer governo —, cuja obrigação mais importante é, justamente, responder adequadamente, sem demora, às demandas dos cidadãos.”

YBB RIO (alexandre yokoyama) Fala: Quer saber não acho nada certo isso , tenho muito respeito pelo empresario  Abilio Diniz , pela sua dedicação e trabalho , porem deter grande fatia do mercado   é muita coisa com nosso dinheiro , espero que o CADE saiba dar a atenção correta a este assunto.
Porem  o BNDES deveria de servir para o desenvolvimento e infra estrutura de nosso pais que muito necessita e não emprestar dinheiro para empresário que esta com dificuldades financeiras .

Como o IPO mudou a Droga Raia


Uma tentativa frustrada, a entrada de fundos de investimento, ajustes internos que regularam a influência da família controladora, gastos milionários. Como foi a preparação de quatro anos da Droga Raia para abrir o capital

Marie Hippenmeyer/EXAME.com
Executivos da Raia durante a estreia na bolsa
Executivos da Raia durante a estreia na bolsa: sensação de ter passado no vestibular
São Paulo - "Não acredito que vou pagar essa conta.” Foi o que Antonio Carlos Pip ponzi, presidente da rede de farmácias Droga Raia, pensou antes de iniciar mais um almoço com cerca de 40 investidores estrangeiros reunidos num restaurante em Nova York em dezembro de 2010.

Nas contas de Pip ponzi, essas viagens — com seus almoços em restaurantes sofisticados — mais os advogados e auditores que tiveram de ser contratados para preparar a Raia para o IPO (sigla em in glês para ofer ta inicial de ações) já estavam custando 5 milhões de reais à empresa.Fazia mais de uma semana que ele e alguns executivos da empresa estavam viajando pelos Estados Unidos e pela Europa para apresentar a Droga Raia a analistas, gestores de fundos e outros profissionais do mercado — um périplo que precisa ser feito pelas companhias que pretendem abrir o capital na bolsa de valores.
“Pen sava no impacto que o valor teria no caixa e também no tempo que estávamos dedicando à estruturação da abertura de capital”, diz ele. “Havia uma expectativa grande para que tudo desse certo.”
Hoje, o IPO da Raia pode ser considerado um sucesso: as ações foram compradas no topo da faixa de preço estimada pelos bancos que estruturaram a operação e, desde a estreia na bolsa, em dezembro de 2010, os papéis valorizaram 6% (no mesmo período, o Ibovespa caiu 10%).
A empresa levantou 655 milhões de reais e, com esse dinheiro, vem seguindo um plano de expansão que prevê aumentar o número de lojas em cerca de 40% até 2012. Diante disso, hoje, as despesas em Nova York parecem um detalhe.
Mas a preparação para a oferta de ações, um processo de quatro anos no caso da Droga Raia, mostra como o IPO costuma transformar a rotina e a forma de atuar de uma companhia.  
Para os donos da Raia, companhia familiar fundada há mais de 100 anos em Araraquara, no interior de São Paulo, e que hoje fatura 1,9 bilhão de reais, a principal mudança foi aprender a conviver com sócios. “Dividir o poder dói, mas nessa hora é preciso ser racional: acabei aprendendo que é melhor ter uma fatia pequena de um bolo grande”, diz Pipponzi.

junho 28, 2011

Fome de riqueza

Eles já passaram dificuldades, viveram em favela e até em abrigo para refugiados. Conheça empreendedores que se tornaram empresários de sucesso e faturam milhões, e saiba como eles chegaram tão longe

Por Érica Polo
O empresário Antônio Carlos Ferreira, 48 anos, não se esquece do gosto amargo e da consistência pastosa do café com farinha que tomava de manhã antes de sair de casa para trabalhar. Quando criança, Ferreira vivia em uma favela, na cidade paulista de São Caetano do Sul, com sua família.
 
132.jpg
"Ganhava o equivalente a R$ 30 por semana catando sucata. Hoje, minha empresa fatura R$ 200 milhões" Antônio Carlos Ferreira, dono da Neolider
Passava tanta dificuldade que, muitas vezes, não tinha nem um pão para comer. Inconformado, foi à luta. Começou trabalhando como engraxate e depois percebeu que podia ganhar mais catando sucata na rua e revendendo para o ferro-velho do bairro. “Conseguia o equivalente a R$ 30 por semana.
Vídeo: Antonio Carlos Ferreira, da Neolíder, conta sua trajetória. Do menino pobre que enraxava sapatos, até o empresário dono de uma empresa de R$ 200 milhões de faturamento. Confira:
Durante a manhã, estudava em um colégio público e à tarde catava sucata.” Hoje, passadas mais de três décadas, Ferreira é dono da Neolider, fornecedora de tubos de aço, que faturou R$ 200 milhões no ano passado e tem clientes do porte da Petrobras, Nestlé e Coca-Cola. Como ele, outros empreendedores brasileiros atravessaram adversidades, chegaram a passar fome, mas venceram.
 
133.jpg
Setin varreu marcenaria. Sua empresa tem receita de R$ 400 milhões
Antonio Setin, ex-varredor de marcenaria, hoje é dono da Setin, uma incorporadora que fatura R$ 400 milhões; Sergio Amoroso, que vivia na roça, possui o grupo Orsa, uma companhia de papel e celulose com receitas de R$ 1,5 bilhão; Marco Franzato, um ex-boia-fria, hoje lidera o grupo de moda Morena Rosa, cujo faturamento foi de R$ 200 milhões; e Thái Quang Nghiã, um refugiado do Vietnã, encontrado faminto e à deriva por um petroleiro da Petrobras, em 1979, comanda uma empresa de calçados e acessórios com vendas de R$ 30 milhões ao ano. Qual é a receita desses empresários obstinados?
Não é fácil definir o caminho das pedras para o sucesso, mas uma característica que une todos esses empreendedores é coragem. “No início, mesmo que se tenha uma boa ideia e até mesmo algum capital, é fácil ficar com medo de tomar a decisão. Por isso, além da própria competência, é preciso ter atitude”, diz Marcos Hashimoto, do Centro de Empreendedorismo do Insper. Isso, aliás, é o que o empresário Sergio Amoroso tem de sobra.
Filho de pequenos agricultores que foram à falência e se mudaram para a cidade, Amoroso começou a trabalhar no almoxarifado de uma fábrica de calçados em Birigui, em São Paulo, com 11 anos. “Como eu gostava muito de números, fui crescendo na profissão e, quando tinha 16 anos, já era chefe do setor”, conta.
128.jpg
 
Aos 18 anos, decidiu se mudar para a capital paulista, porque era a “terra da oportunidade”. “Eu tinha uns trocados guardados”, conta. Ao chegar, dividiu apartamento com jovens conhecidos. O dinheiro durou oito meses. “Fiquei uns três ou quatro dias sem comer, passei fome”, conta. Nesse meio tempo, Amoroso recebeu um convite para trabalhar em uma fabricante de embalagens de papelão.
“O dono queria alguém bem novo, que ele pudesse ensinar, e lá fui eu.” Ele trabalhou por lá durante sete anos e ficou craque no negócio. “Saí quando a empresa pediu concordata na época da super-inflação. Eu já queria abrir minha empresa e aproveitei o fato de ter muitos contatos no mercado de papel para começar”, conta.
Foi nesse momento, em 1981, numa época de instabilidade econômica, que ele mostrou a coragem e, com alguns sócios, alugou um galpão de 350 metros quadrados na Vila Zelina, em São Paulo, para montar o próprio negócio. “Financiamos a compra de algumas máquinas e conseguimos matéria-prima com prazo um pouco maior”, conta o presidente do Grupo Orsa, hoje com faturamento de R$ 1,5 bilhão. “Foi determinante não ter medo de enfrentar situações desconhecidas e agarrar-se às oportunidades com unhas e dentes”, diz Amoroso.
 
Uma pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor no Brasil mostra que alcançar o sucesso com um negócio próprio é o sonho de milhares de brasileiros.  “Em 2009, 15,32% das pessoas, com idades entre 18 e 64 anos, abriram uma empresa. Nos anos anteriores a taxa média era de 13%”, diz Simara Greco, coordenadora do levantamento no País.
Esse estudo ajuda a compreender a situação de um país. Os que possuem as maiores taxas de empreendedorismo são aqueles nos quais as diferenças sociais são abissais (leia quadro na pág. 65). Afinal, com menos empregos, as pessoas precisam buscar alternativas para sobreviver. E quem passou necessidade parece conhecer os atalhos para chegar lá. É o caso de Antônio Carlos Ferreira, da Neolider. Quando catava sucata, valorizava cada centavo como uma grande conquista.
129.jpg

 
Por isso, aos 16 anos, quando – parecia o destino – arrumou emprego de contínuo em uma fundição que derretia sucata e a transformava em lingotes de chumbo, agarrou a chance com força. “Eu quebrava o galho de todo mundo e fui chamado para trabalhar no departamento de vendas”, diz Ferreira. Aquele foi o ponto de partida para desenvolver características que o levariam a construir sua trajetória: a técnica da negociação e o bom relacionamento com clientes e fornecedores. Some-se a isso uma grande visão empreendedora.
 
Em setembro de 1985, ele percebeu que faltava oferta de tubos de aço no mercado e, como conhecia todos os meandros do setor, resolveu que poderia ganhar dinheiro com isso. Vendeu um Fusca velho, alugou um salão de 10x20 metros, em São Bernardo do Campo, puxou duas linhas de telefone para lá – da própria casa e da residência da avó – e ligou para os conhecidos.
 
Na época, a companhia chamava-se Inox Líder e distribuía tubos de aço. No primeiro ano de operação, fechou um  grande contrato: a venda de tubos para a empresa alemã Henkel. Ferreira diz que o crescimento veio, sobretudo, por conta do talento da equipe de vendas. “Ganhava um pouco mais com quem precisava do material com urgência, mas também negociava a redução de preço se o cliente precisasse. Assim fui construindo minha rede de relacionamentos”, conta. E prossegue: “Também é preciso conhecer um pouco de tudo. Os grandes empresários entendem de vendas, administração e contabilidade”, avalia. 

 O conhecimento em várias áreas também ajudou Marco Franzato, 51 anos, hoje diretor-presidente do Grupo Morena Rosa, da área têxtil, a ter sucesso em um negócio que não era sua praia. “Eu sonhava abrir uma empresa já quando era pequeno e levava vida de boia-fria”, conta. Pois é, ele colheu café ao lado do pai, no interior paranaense, até os 16 anos e, até essa idade, só tinha concluído o ensino fundamental.
130.jpg

 
Foi parar em Cianorte quando uma geada prejudicou as lavouras e levou a família a procurar emprego na cidade. “Logo após chegarmos, meu padrinho me chamou para trabalhar como ajudante em um escritório de contabilidade”, diz Franzato. Voltou aos estudos, trilhou carreira na área e decidiu criar seu negócio, uma grife de moda, aos 34 anos, com a esposa e mais três amigos.
“Estava cansado do que fazia, acreditava no meu potencial como administrador, no bom gosto da minha mulher e, além disso, minha cunhada era modelista”, conta. O grupo apostou na venda de roupas para butiques, cujo alvo é o público feminino das classes A e B. No início, o salão alugado para a fábrica tinha 80 metros quadrados e quatro máquinas.
 
134.jpg
Marco Franzato foi boia-fria. Hoje seu grupo de moda fatura R$ 200 milhões
 
 
Para impulsionar as vendas, montou uma pequena loja perto da linha de produção, para onde o empresário levava sacolas com os produtos nas próprias costas. Resultado: hoje, a Morena Rosa tem  quatro marcas, uma sede com 5 mil m2 e faturou R$ 200 milhões em 2009. “Sempre fui ativo, dedicado e até hoje trabalho 15 horas por dia, acredito que seja a fórmula”, diz.
Mas não são apenas as características pessoais que ajudam no sucesso. Embora a cultura de empreender ainda não esteja enraizada como nos EUA, onde as crianças são estimuladas a vender limonada na porta de casa, o fortalecimento da economia do Brasil também tem colaborado para o surgimento de novos empreendedores. Que o diga o vietnamita naturalizado brasileiro Thái Quang Nghiã, 52 anos. Ele é a prova concreta de como o Brasil tem oferecido oportunidades.
Em 1979, aos 21 anos, ele decidiu fugir da ditadura no Vietnã e lançou-se ao mar junto com mais nove pessoas. Ficou à deriva e passou fome, até ser resgatado por um petroleiro da Petrobras no Oceano Pacífico. Chegou ao Brasil sem falar uma palavra de português, morou em favela no Rio de Janeiro e em albergues em São Paulo, onde vivia com auxílio mensal de US$ 50 fornecidos pela ONU.
 
135.jpg
A partir do zero, Sergio Amoroso criou o grupo Orsa, com receita de R$ 1,5 bilhão
 
Aprendeu a falar o idioma lendo dicionários de francês-português em bibliotecas. “Aprendi francês na escola”, conta. A partir daí, conseguiu trabalhar. Descobriu o que realmente gostava de fazer, em 1986, quando teve que vender algumas bolsas que tinha recebido como pagamento de uma dívida. “Havia emprestado dinheiro a um amigo. Era final do Plano Cruzado, ele estava quebrado e me pagou em bolsas.” Saiu às ruas de Cotia e Itapevi, em São Paulo, para vendê-las. “Tive 400% de lucro com aquela venda.”
Com o dinheiro ganho, contratou costureiras para fazer bolsas artesanais e criou o Grupo Domini, que hoje também produz calçados e fatura R$ 30 milhões por ano. O pulo do gato, porém, aconteceu em 2003, no último ano da faculdade de administração – sim, o vietnamita que chegou ao Brasil sem falar uma palavra de português se formou na Universidade Mackenzie, em São Paulo.
“Precisava de um projeto diferenciado que fosse rentável, mas sustentável ao mesmo tempo.” A solução estava na sua cara. Quang tinha feito uma viagem para visitar a família no Vietnã e comprou um suvenir. Era uma miniatura de uma sandália que as pessoas usavam no tempo da guerra, feita artesanalmente com solado de borracha de pneus usados. Assim nasceu a Góoc, sua marca de sandálias e carro-chefe de seu grupo. A perseverança do vietnamita, que teve de aprender o idioma, morou em uma favela e hoje fatura milhões de reais, parece história de filme. 
 
137.jpg
Quang, refugiado do Vietnã, morou em favela e hoje fatura R$ 30 milhões
 
Antonio Setin, dono da incoporadora Setin, não chegou a esse ponto, mas sua trajetória também é cinematográfica. Quem imaginaria que o fundador de uma companhia que deverá faturar R$ 400 milhões em 2010 começou a trabalhar aos 13 anos como uma espécie de faz-tudo em uma marcenaria? “Meus dois irmãos começaram uma marcenaria no fundo da casa dos meus pais, na zona norte de São Paulo. Eu varria, cortava madeira e ajudava na fabricação. As piores tarefas ficavam comigo”, brinca.
Nesse trabalho, onde permaneceu durante 11 anos, ele descobriu seu gosto por desenho e aprendeu a negociar, pois era quem atendia diretamente a clientela. “Quando concluí a faculdade, o sonho de construir estava latente”, conta. Aos 25 anos, então, formado em arquitetura, abriu seu primeiro escritório, no bairro da Casa Verde, na capital paulista, e mirou em um público a que poucas pessoas davam atenção: a classe C.
Ao lado dos irmãos, com o lucro da marcenaria, começou a comprar terrenos e construir casas populares para depois vendê-las. De casas populares, a construtora passou a construir imóveis para a classe média e depois hotéis. “As dificuldades me tornaram mais persistente e paciente”, diz Setin. Além disso, ele dá outra lição: “Eu nunca pensei em ganhar dinheiro. Sempre em fazer o que gosto.”

O vice venceu
Nascido no município de Muriaé, na Zona da Mata mineira, José Alencar percorreu um longo caminho até montar seu império têxtil e chegar à vice-presidência da República. Filho de família pobre, o menino nascido em 1931 dividia a casa com 14 irmãos e, na falta de energia elétrica e água encanada, precisava buscar água no poço todos os dias. Sem acesso à escola, Alencar foi alfabetizado pelos próprios pais.
 
136.jpg
Alencar: no começo da carreira, trabalhou como vendedor 
Seu primeiro contato com uma sala de aula só ocorreria depois que vizinhos do povoado de Itamuri improvisaram um quadro-negro dentro de uma tulha (edificação de piso de chão e paredes de ripa cobertas de sapé), para onde o menino se dirigiu descalço durante três anos. Alencar começou a trabalhar aos 7 anos, ajudando o pai na venda, e aos 14 deixou a casa da família para trabalhar como balconista numa loja de tecidos.
O trabalho obstinado transformou o menino pobre de Muriaé em proprietário de uma lojinha em Caratinga com apenas 18 anos. Ele ainda seria viajante comercial, atacadista de cereais e dono de uma fábrica de macarrão. Criada em 1967 por Alencar, a Coteminas se tornou uma das maiores têxteis do mundo.

Os novos magnatas do petróleo


Conheça as estratégias de empresários como Antônio Augusto de Queiroz Galvão, Márcio Rocha Mello e Eike Batista para sair na frente na corrida pela exploração das reservas bilionárias na América Latina e África

Por Tatiana Bautzer / isto é dinheiro
Vídeo: editora de negócios globais da IstoÉ DINHEIRO, Tatiana Bautzer, fala quem são e o que pensam os novos magnatas do petróleo

Na manhã gelada de 24 de janeiro em Nova York, o bilionário brasileiro Eike Batista fez uma provocação ao encontrar Márcio Rocha Mello, dono da HRT Participações e seu concorrente na área de petróleo, no hall do luxuoso hotel New York Palace.
– Você precisa produzir aquele óleo que você prometeu, né, Márcio? – disse o irreverente Batista.
– Vou produzir antes de você, Eike – respondeu Mello.
– Não acredito – replicou o dono da OGX.
 
Ambos estavam nos Estados Unidos para atrair investidores para seus negócios com o ouro negro, a nova fronteira de riqueza do Brasil no século XXI. A pressão sobre os dois e suas empresas bilionárias no mercado para começar a entregar o petróleo prometido aumentou na semana passada com a estreia de uma nova concorrente na bolsa de valores, a Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP). 
 
53.jpg
Márcio Rocha Mello, da HRT: campos na Amazônie e África e expectativa para
próximas rodadas de licitação da Agência Nacional do Petróleo
 
A companhia, baseada no Rio de Janeiro, captou R$ 1,5 bilhão em seu IPO (oferta pública inicial) e chegou ao mercado já como a quarta maior produtora do País, atrás apenas da Petrobras e das multinacionais Shell e Chevron. 
 
A empresa detém 45% do campo de Manati, na bacia de Camamu, no litoral da Bahia, que produz 50 mil barris de óleo equivalente por dia e participa de oito blocos exploratórios, incluindo reservatórios no pré-sal, nas Bacias de Santos e Jequitinhonha.
 
Com a chegada da QGEP à bolsa valendo quase R$ 5 bilhões, as três petroleiras privadas brasileiras já atingem capitalização de mercado de nada menos de R$ 70 bilhões. 
 
Em outras palavras: as novatas empresas dos magnatas do petróleo brasileiro, Eike Batista, Márcio Mello e família Queiroz Galvão já correspondem a 20% da gigantesca Petrobras, criada há mais de meio século. 
 
E mais: esse clube de empresários poderosos só tende a crescer nos próximos dez anos, com os investimentos previstos em US$ 600 bilhões para o setor petrolífero no período.
 
49.jpg
 
 
Novatas, mas não exatamente inexperientes. “Nossa experiência no setor antecede em muito a criação da companhia. Prestamos serviços há 30 anos para a cadeia de óleo e gás e estamos na exploração há quinze”, disse o presidente da QGEP, Antônio Augusto de Queiroz Galvão, na cerimônia que marcou a estreia de suas ações, realizada na Bovespa, no centro velho da capital paulista, na última quarta-feira, 9. 
 
O grupo Queiroz Galvão, dono da quarta maior construtora do País e com atuação em setores como rodovias, energia, siderurgia e agronegócio, foi fundado em 1953, em Recife. 
 
Hoje, tem cerca de 30 mil empregados e fatura mais de R$ 7 bilhões por ano. Com sua nova aposta, tende a crescer ainda mais. “Um grupo empresarial que conhece o Brasil há tanto tempo não poderia ficar de fora deste momento tão promissor da indústria de óleo e gás, notadamente a descoberta do pré-sal”, afirmou o empresário.
 
50.jpg
Ipo da OGX em 2008: lançada como um projeto, está sendo cobrada a entregar resultados
 
Nos documentos entregues aos investidores, a QGEP informa que usará o dinheiro arrecadado no IPO para a compra de participações em blocos de exploração nas bacias de Campos, Santos e Espírito Santo. 
 
Embora a cotação do barril de petróleo esteja acima de US$ 100, a Queiroz Galvão captou menos do que os R$ 1,8 bilhão inicialmente previstos, em decorrência do nervosismo do mercado internacional diante da crise no Egito. Nesse ambiente, captar R$ 1,5 bilhão já é um sucesso.
 
A QGEP é pequena em reservas, comparada às concorrentes: tem 345 milhões de barris de óleo equivalente em recursos riscados (ajustados pela probabilidade de sucesso), enquanto a OGX tem reservas estimadas em 6,7 bilhões de barris e a HRT, em cerca de 1,5 bilhão. 
 
As reservas da Petrobras somam cerca de 15 bilhões, mas esse número poderá dobrar quando forem incorporadas as gigantescas reservas da camada pré-sal. Extrair todo esse óleo e comercializá-lo é tarefa para gigantes. 
 
No melhor estilo da elite das empreiteiras, os donos da Queiroz Galvão falam pouco. Antônio Augusto, presidente do conselho de administração do grupo, é filho do patriarca Antônio Queiroz Galvão, que fundou a empresa com os irmãos Mário, João e Dario. 
 
47.jpg
 
 
Engenheiro formado pela Universidade Federal de Pernambuco, tem cursos de especialização em petróleo no Texas e na Louisiana, nos Estados Unidos. É chamado pelo presidente da QGEP, José Augusto Fernandes, de “grande chefe e líder”. A estreia na bolsa reforçou seu estilo low profile.
 
Quando a HRT captou R$ 2,6 bilhões em sua oferta de ações, em novembro do ano passado, Marcio Mello levou passistas e músicos da escola de samba Beija Flor ao pregão da Bovespa. 
 
Nada mais distante da discretíssima cerimônia da Queiroz Galvão: Antônio Augusto chorou ao agradecer aos pais e à esposa, que estavam presentes. A trilha musical estava a cargo de um singelo grupo de chorinho. “Eles são muito mais contidos nas apresentações aos investidores”, diz um dos assessores financeiros do empresário. 
 
52.jpg
Abertura de capital da HRT: A empresa levantou R$ 2,6 bilhões e deve captar outros R$ 500 milhões em Warrants
 
Monossilábico, Antonio Augusto não concorda em ser chamado de novo magnata do petróleo brasileiro e economiza até a palavra “não” ao ser questionado pela DINHEIRO sobre seu novo status – apenas faz um meneio com a cabeça. Gentil, não dá entrevista, mas concorda em posar para as fotos desta reportagem. 
 
Lidar com as demandas de uma empresa de capital aberto será um dos principais desafios para o grupo, que tem uma cultura conservadora, mesmo para os fechados padrões das grandes construtoras. 
 
Enquanto a OGX e, principalmente, a HRT se colocam como concorrentes da Petrobras, a Queiroz Galvão diz que uma de suas maiores vantagens competitivas é seu “bom relacionamento com a Petrobras”. No entanto, alguns analistas consideram que essa proximidade é, na verdade, um problema, porque torna a QGEP mais dependente da estatal.
 
Ao menos protocolarmente, a chegada da QGEP foi bem recebida pela concorrência. “Acho ótimo ter concorrentes na bolsa. O mercado é agressivo e punitivo e, assim como cobra resultados da gente, vai cobrar deles também”, disse o magnata por excelência Eike Batista, em entrevista à DINHEIRO na quinta-feira, 10. 
 
48.jpg
 
 
Numa teleconferência na véspera – não por acaso o mesmo dia da estreia da Queiroz Galvão na Bovespa – Batista anunciou que a OGX começa a produzir petróleo em agosto, num poço de alta produtividade em águas rasas da Bacia de Campos. 
 
“Nós passamos no nosso teste de São Tomé”, afirmou, referindo-se ao anúncio de que o poço Waimea Horizontal tem vazão de 40 mil barris de petróleo por dia, um dos mais altos índices de produtividade da Bacia de Campos. 
 
O custo de extração do barril é baixíssimo, de US$ 8, porque o poço fica em águas rasas – um motivo e tanto para comemorações. “Hellooo!! Teremos uma margem altíssima e no ano que vem a geração de caixa será de US$ 1 bilhão”, afirmou Batista, rebatendo as críticas mais comuns do mercado às suas empresas: de que elas não geram caixa. Por enquanto, a OGX está no vermelho. O prejuízo foi de R$ 84,7 milhões nos primeiros nove meses do ano passado.
 
51.jpg
Queiroz Galvão Exploração e produção: Valor de mercado de R$ 5 bilhões 
 
Sempre otimista, o empresário continua com grandes planos. A OGX deve ser listada em Londres até o segundo semestre do ano, para permitir o ingresso de investimentos de fundos de pensão estrangeiros que hoje não podem comprar os papéis da empresa. 
 
A empresa já chegou a valer mais de R$ 70 bilhões na bolsa, mas recuou para R$ 57 bilhões em meados de fevereiro. Só neste ano, os papéis recuaram 10%, refletindo a decepção com o fato de Batista não ter concluído a venda de participações em seus poços de petróleo a investidores estratégicos, o que estava previsto para o fim do ano passado. 
 
Batista diz que continua negociando com muitos grupos, mas não tem data para fechar negócio. Ele credita a perda de valor de mercado a “rumores” que envolveriam sua saúde e uma eventual debandada de executivos do grupo. Isso ocorreu depois da demissão do presidente da OGX, Rodolfo Landim, em 2009.  
 
Rocha Mello, que desafiou Batista em Nova York, tem sido mais precavido e, desde que a HRT abriu capital, em novembro passado, tenta mostrar que o início da produção de petróleo está próxima. 
 
“No plano de negócios prometemos produção só em 2012, mas estamos antecipando para este ano”, disse Rocha Mello à DINHEIRO. A HRT prevê chegar ao fim do ano com produção entre 500 e 5 mil barris diários, em cinco poços na bacia do Solimões, na Amazônia. 
 
46.jpg
 
O modelo de negócios da HRT é autônomo: a empresa faz questão de ser a operadora dos campos e por isso não deve disputar o pré-sal brasileiro, que será operado exclusivamente pela Petrobras. 
 
“Com o conhecimento e a operação, você tem controle do seu destino”, afirma Rocha Mello. Além da participação de 51% em 21 poços da bacia do Solimões, a HRT controla outros cinco na Namíbia. 
 
“Somos focados na Bacia do Solimões e na África. Queremos disputar as próximas rodadas da Agência Nacional do Petroleo (ANP) fora do pré-sal, e crescer na Namíbia, Congo e Angola”. Ele também pretende listar sua companhia em bolsas do Exterior, começando pelo Canadá em 2012.
 
45.jpg
 
 
Exímio vendedor, Rocha Mello é um geólogo formado numa carreira de 24 anos na Petrobras, onde recebeu o apelido de Mr. Go Deeper por ter escrito artigos científicos já no ano 2000 apontando a possibilidade de depósitos abaixo da camada de sal. 
 
Foi o fundador do primeiro laboratório de geoquímica da estatal. Segundo ele, o investimento na África faz todo sentido. “Os continentes são análogos, é possível encontrar reservas de pré-sal na Namíbia e em Angola”, afirma. Há quem veja com cautela essa opção. Rocha Mello rebate as críticas. “A Namíbia é uma das democracias mais estáveis da África.”
 
A modéstia, aliás, não é seu forte: Rocha Mello costuma dizer, escandindo todas as sílabas, que sua empresa será a maior companhia independente do mundo e que já no ano que vem terá valor de mercado de R$ 30 bilhões. E compara seu estilo de administração ao do fundador da Apple, Steve Jobs. 
 
“Eu me meto em tudo aqui na companhia, mas de uma maneira produtiva e não destrutiva.” Até agora, tem conseguido convencer o mercado. A HRT é a única empresa do setor a subir na bolsa neste ano:  4,5%. 
 
44.jpg
 
 
Mas tanta euforia em torno do petróleo não será passageira, tendo em vista os investimentos crescentes em energia renovável e as limitações de emissões negociadas internacionalmente? Especialistas e a Agência Internacional de Energia (AIE) afirmam que não. 
 
“A participação do petróleo na matriz energética mundial deverá continuar elevada por muito tempo, assim como os preços”, afirma o analista de petróleo da consultoria Tendências, Walter de Vito. 
 
Em seu último relatório, a AIE prevê que a era do petróleo barato acabou. Em 2035, prevê, o preço do barril de petróleo deverá oscilar entre US$ 90 e US$ 140, dependendo das políticas adotadas contra a emissão de carbono.
 
São esses dados que entusiasmam os investidores. A próxima onda de empresas que devem vender ações na bolsa é a de prestadoras de serviços para a cadeia de óleo e gás. Uma delas é a Petroserv, que atua em equipamentos e distribuição de petróleo. 
 
A Odebrecht Óleo e Gás, braço do grupo Odebrecht no setor, chegou a avaliar a venda de ações na bolsa, mas desistiu depois de receber US$ 400 milhões do fundo soberano Temasek, de Cingapura. 
 
Nos EUA, as companhias de serviços representam 35% da capitalização no setor petrolífero. Na Noruega, 80%. Aqui, menos de 5%. Se depender das novas apostas dos magnatas do petróleo, o cenário promissor vai se concretizar.

Estaleiro da OSX sai do papel e reduz risco para ações


“A aprovação formal agora completa um processo e elimina os riscos de contratempos”, explica analista.


Obras de um navio da OSX em abril de 2011
Obras de um navio da OSX em abril de 2011
São Paulo – A licença para a construção do estaleiro da OSX (OSXB3) no Rio de Janeiro elimina um importante risco de investimento nas ações da empresa de Eike Batista, afirmam analistas. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea-RJ) autorizou as obras após cerca de um ano do início do processo.
“Acreditamos que o mercado já contava com a aprovação da licença, mas a aprovação formal agora completa um processo e elimina os riscos de contratempos, deixando a OSX finalmente iniciar a fase de construção do estaleiro”, ressaltam Paula Kovarsky e Diego Mendes, analistas do Itaú BBA.
A OSX vai começar as obras para a construção do estaleiro no próximo mês. O empreendimento será levantado no Complexo Industrial do Superporto do Açu, no Distrito Industrial de São Joao da Barra (Rio de Janeiro). O custo da obra está estimado em 3 bilhões reais e é uma parceria com a sul-coreana Hyundai Heavy Industries. 
“Apesar de o fato já ter sido antecipado na semana passada, e parte disso já ter sido incorporado nos preços das ações, a nossa visão para a aprovação é positivo, porque isso deixa para trás um fator de risco para a companhia”, explicam Marcos Pereira, Daniel Fonseca e João Arruda, analistas da Votorantim Corretora.
A Votorantim colocou a recomendação e o preço-alvo da empresa em revisão para incorporar novas premissas e o novo cronograma de instalação do projeto. “Entretanto, antecipamos que não vemos grandes mudanças para a análise de valor da empresa”, dizem os analistas.
O Itaú BBA manteve a recomendação de desempenho acima da média (outperform) para os papéis, com um preço-alvo de 1.160 reais. O valor representa um potencial de valorização de 166% na comparação com o fechamento de ontem (435 reais).
“Além disso, vemos o fato de que a Petrobras convidou a companhia para participar dos leilões para construir para a estatal, o que é um reconhecimento de terceiros de que o estaleiro será construído”, afirma o Itaú BBA.
Histórico
Antes de escolher o RJ como local para a construção do estaleiro, a OSX tentou em vãoiniciar as obras em uma área próxima à Florianópolis, capital de Santa Catarina. O projeto, contudo, não foi aprovado porque poderia interferir em três unidades de conservação federal da região, a de Carijós, a Marinha do Arvoredo e de Anhatomirim.
"O empreendimento tem grande chance de acabar com uma população inteira de golfinhos na região de Anhatomirim. Não vejo como eles possam alterar o projeto de uma forma que esse impacto deixe de existir", disse o chefe da unidade de Carijós, Apoena Figueroa, à EXAME.com na época.
"Trabalhamos com entusiasmo para botar de pé o maior estaleiro das Américas e, assim, poder construir, com conteúdo nacional, a imensa quantidade de equipamentos navais que o nosso País precisa para produzir o petróleo que temos descoberto em águas nacionais", comemorou Luiz Eduardo Carneiro, diretor presidente da OSX, em nota publicada ontem.